Certa entidade em busca de outra
ATO PRIMEIRO
Brás (entrando) — Quem diabo está nesta casa!? (muito admirado) Por um dos reposteiros vi aqui a Satanás com olhos adiante e pernas atrás! Depois vi Judas Iscariotes, que andava a trotes! Por uma janela, a Micaela abrindo a boca de gamela! Mas o meu rapaz, o meu Ferrabrás; o meu contimpina, que de dia dorme, e de noite maquina! Oh! Esse, nem por sombras me quer aparecer, ou eu pude ver! Bárbaros! Assassinos! Traidores! Que tudo me roubam e depois querem que eu trabalhe para sustentá-los! Infames! Escravizam em vez de libertarem... Hei de lançar por terra tão indigno governo! Ou hão de os governantes e governados terem direitos e deveres, ou nenhum governo durará no poder mais que treze meses! A Nação, cujo espírito será como o de um só homem, os inutilizará, a todos embrutecendo ou a cabeça fedendo!
(...)
(aparece Satanás)
Brás — Infeliz! Que fazes aqui?
Satanás — Sou Satanás, rei dos infernos, encarregado pelos demônios para destruirmos os maus!
Brás — Oh! Dai-me um abraço! Sois meu Irmão, meu amigo e companheiro! Estais armado?
Satanás — Sim. Trago as armas — do poder e da vingança.
Brás — Pois sabei que eu empunho a espada da justiça; o revólver do direito e o punhal da razão! Combina-se bem com as tuas. Triunfaremos!
Satanás — Sem dúvida. Com tais armas, jamais haverá poder que nos possa vencer!
Qorpo-Santo. In: Literatura brasileira: textos
literários em meio eletrônico. Internet: <www.dominiopublico.gov.br> (com adaptações).