Estimamos que as mitologias, mais que as ciências e as filosofias, encerram, junto com as religiões, as grandes elucidações da essência humana. Aí as culturas, geração após geração, projetaram grandes visões, acumularam reflexões, fizeram aprofundamentos e os passaram a seus pósteros. Souberam usar uma linguagem plástica — com imagens tiradas das profundezas do inconsciente coletivo — acessível a todas as idades e a todos os tempos. Além das visões e dos símbolos, suscitaram e continuam suscitando grandes emoções.
Não é seguro que nós, modernos, com nossa inteligência instrumental, com nossa tradição de pesquisa empírica, de crítica e de acumulação de saberes sobre praticamente tudo, conheçamos mais o ser humano que os antigos formuladores de mitos. Esses se revelaram observadores meticulosos e sábios exímios de cada situação e de cada dobra da existência. Convém revisitá-los, valorizar suas contribuições e escutar suas lições, sempre atuais.
Leonardo Boff. Saber cuidar: ética do humano — compaixão
pela Terra. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 36-7 (com adaptações).