Você pode ser imortal
Morte morrida é coisa que a Turritopsis dohrnii não conhece. A vida dessa espécie de água-viva só acaba se ela for ferida gravemente. Do contrário, a T. dohrnii vai vivendo, sem prazo de validade. Suas células mantêm-se em um ciclo de renovação indefinidamente, como se voltassem à infância. Podem aprender qualquer função de que o corpo precise. É uma verdadeira (e útil) mágica evolutiva, parecida
com a do Seabates aleutianus, um peixe do Pacífico conhecido como rockfish, e com a de duas espécies de tartaruga, a Emydoidea blandingii e a Chrysemys picta (ambas da América do Norte). Esse segundo grupo tem o que a ciência chama de envelhecimento desprezível. Suas células ficam sempre jovens, por motivo que a ciência ainda quer descobrir.
A imortalidade existe na natureza. Não tem nada de utopia. Pena que nós não desfrutemos dessa vantagem. Ao longo do tempo, nosso corpo se deteriora. Perdemos os melanócitos que dão cor aos cabelos, o colágeno da pele, a cartilagem dos ossos — ficamos frisados, enrugados, com dores nas juntas. Velhos. Em uma sucessão de baixas, células e órgãos vão deixando de cumprir funções cruciais para o corpo. Até que tudo isso culmina em uma pane geral. E nós morremos.
João Vito Cinquepalmi. Você pode ser imortal. In: SuperInteressante, fev./2010 (com adaptações).