A questão da possível conexão entre música e política começou a sobrelevar-se nos momentos posteriores à Revolução Russa de 1917, quando muitos artistas, intelectuais, escritores e compositores postularam a idéia da arte como um fator de transformação política e social. Na União Soviética, recuperando-se o projeto nacionalista no campo musical, iniciado pelos românticos durante o século XIX, procurou-se estabelecer diretrizes da arte, de modo que esta fosse capaz de refletir os anseios do povo e de preservar a cultura popular. Por outro lado, os regimes totalitários, percebendo a importância da arte como uma arma de propaganda de ideais políticos, criaram órgãos específicos para controlar e censurar as mais diversas atividades artísticas. O Estado totalitário, diante do caráter polissêmico e coletivista da música, considerava que ela poderia transformar a multidão em massa perturbadora da ordem.
Nos anos 20 e 30 do século XX, alguns governos procuraram estabelecer projetos oficiais no campo da cultura, em um momento em que se ampliava significativamente a música popular, por meio do rádio e dos discos. Na Alemanha, sob Goebbels, procurou-se estabelecer uma série de normas a fim de regulamentar um tipo de música como sendo a mais verdadeira, ou seja, a mais rigorosamente germânica. A esse regime interessavam obras de conotações nacional-populares, embasadas nos textos medievais ou nas canções românticas do século XIX.
Arnaldo Daraya Contier. Arte e Estado: música e poder na Alemanha dos anos 30. In: Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, vol. 8, n.º 15, 1987, p. 107-13 (com adaptações).