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O assombro de Itaguaí


E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a vila, ao saber um dia que os loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.


4 — Todos?


— Todos.


É impossível; alguns, sim, mas todos...


 — Todos. Assim o disse eleC no ofício que mandou hoje de manhã à câmara. De fato, o alienista oficiara à câmara expondo: 1.º, que verificara das estatísticas da vila e da Casa Verde que quatro quintos da população estavam aposentados naquele estabelecimento; 2.º, que esta deslocação de população levara-o a examinar os fundamentos da sua teoria das moléstias cerebrais, teoria que excluía do domínio da razão todos os casos em que o equilíbrio das faculdades não fosse perfeito e absoluto; 3.º, que desse exame e do fato estatístico resultara para ele a convicção de que a verdadeira doutrina não era aquela, mas a oposta, e, portanto, que se devia admitir como normal e exemplar o desequilíbrio das faculdades, e como hipóteses patológicas todos os casos em que aquele equilíbrio fosse ininterrupto; 4.º, que, à vista disso, declarava à câmara que ia dar liberdade aos reclusos da Casa Verde e agasalhar nela as pessoas que se achassem nas condições agora expostas; 5.º, que, tratando de descobrir a verdade científica, não se pouparia a esforços de toda a natureza, esperando da câmara igual dedicação; 6.º, que restituía à câmara e aos particulares a soma do estipêndio recebido pelo alojamento dos supostos loucos, descontada a parte efetivamente gasta com a alimentação, roupa etc.; o que a câmara mandaria verificar nos livros e arcas da Casa Verde.


O assombro de Itaguaí foi grande; não foi menor a alegria dos parentes e amigos dos reclusos. Jantares, danças, luminárias, músicas, tudo houve para celebrar tão fausto acontecimento. Não descrevo as festas por não interessarem ao nosso propósito; mas foram esplêndidas, tocantes e prolongadas.


E vão assim as coisas humanas! No meio do regozijo produzido pelo ofício de Simão Bacamarte, ninguém advertia na frase final do § 4.º, uma frase cheia de experiências futuras.


Machado de Assis. O alienista. In: 50 contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 71-2.

No que concerne ao fragmento do conto de Machado de Assis apresentado, ao conjunto de sua obra e à sua relação com os elementos constitutivos da literatura brasileira, assim como às suas estruturas lingüísticas e ao contexto histórico de sua produção, julgue os itens a seguir.

 

De acordo com as relações sintáticas estabelecidas em “Assim o disse ele” (l.7), os pronomes “o” e “ele”, nas formas como se apresentam, constituem, respectivamente, o complemento do verbo dizer e o sujeito da oração, os quais estão com as posições invertidas.



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