Nem só de jacarés, cobras e chuvas ao fim da tarde viveu a capital do Amazonas. Distante das lendas, assim como do resto do Brasil, Manaus cresceu de um desejo coletivo pela prosperidade que a imensa riqueza da extração da borracha permitia. Já lá se vai este tempo áureo, mas a arquitetura sobrevivente daquela época remonta às lembranças e estimula o olhar mais atento para o passado. O período da borracha liga-se diretamente à instalação da Província do Amazonas, em 1852. Só assim seria possível controlar-se o movimento de pessoas e tudo o que faziam em tão vasto território, e, assim, arrecadar para os cofres públicos o dinheiro da exportação da borracha para atender às demandas, que se tornariam cada vez maiores. Desse modo, a cidade foi-se favorecendo de uma diversidade de bens incomuns em muitos outros locais do Brasil. Em Manaus, a luz elétrica das casas, nas ruas e nos bondes chegou mais cedo do que em muitas capitais européias, antes do fim do século XIX, assim como a água potável, o sistema de esgotos e o tratamento sanitário, que combatiam eficazmente as endemias que afligiam a maioria dos brasileiros.
Márcio Páscoa. Uma Atenas na selva. In: Nossa História. Rio de Janeiro: Vera Cruz, ago./2005, p. 61 (com adaptações).