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Mundo animal
No morro atrás de onde eu moro vivem alguns urubus. Eles decolam juntos, cerca de dez, e aproveitam as correntes ascendentes para alcançar as nuvens sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, planam de volta, dando rasantes na varanda de casa. O grupo dorme na copa das árvores e lembra o dos carcarás do Mogli. Às vezes, eles costumam pegar sol no terraço. Sempre que dou de cara com um, trato-o com respeito. O urubu é um pássaro grande, feio e mal-encarado, mas é da paz. Ele não ataca e só vai embora se alguém o afugenta com gritos.
Recentemente, notei que um bem-te-vi aparecia todos os dias de manhã para roubar a palha da palmeira do jardim. De vez em quando, trazia a senhora para ajudar no ninho. Comecei a colocar pão na mesa de fora, e eles se habituaram a tomar o café conosco. Agora, quando não encontram o repasto, cantam, reclamando do atraso. Um outro casal descobriu o banquete, não sei a que gênero esses dois pertencem. A cor é um verde-escuro brilhante, o tamanho é menor do que o do bem-te-vi e o Pavarotti da dupla é o macho.
A ideia de prender um passarinho na gaiola, por mais que ele se acostume com o dono, é muito triste. Comprei um periquito, uma vez, criado em cárcere privado, e o soltei na sala. Achei que ele ia gostar de ter espaço. Saí para trabalhar e, quando voltei, o pobre estava morto atrás da poltrona. Ele tentou sair e morreu dando cabeçadas no vidro. Carrego a culpa até hoje. De boas intenções o inferno está cheio.
O Rio de Janeiro existe entre lá e cá, entre o asfalto e a mata atlântica, mas a fauna daqui é mais delicada do que a africana e a indiana. Quem tem janela perto do verde conhece bem o que é conviver com os micos. Nos meus tempos de São Conrado, eu costumava acordar com um monte deles esperando a boia. Foi a primeira vez que experimentei cativar espécies não domesticadas.
Lanço aqui a campanha: crie vínculos com um curió, uma paca ou um formigueiro que seja. Eles são fiéis e conectam você com a mãe natureza. Experimente, ponha um pãozinho no parapeito e veja se alguém aparece.
Fernanda Torres. In: Veja Rio, 2/12/2012 (com adaptações).
Com relação às ideias e às suas estruturas linguísticas do texto apresentado, julgue o item a seguir.
Sem prejuízo da correção gramatical do texto, a vírgula em “Experimente, ponha um pãozinho no parapeito e veja se alguém aparece” poderia ser substituída pelo sinal de dois-pontos.