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Texto: A INTELIGÊNCIA DO FUTURO

 

Você tomaria uma pílula que o tornaria um gênio muito acima da média? Há vinte anos, o escritor Alan Glynn escreveu um livro que serviu de base para um filme. Sem limites (2011). Do filme, surgiria uma série de mesmo nome. Fundindo aqui o livro, o filme e a série, temos uma droga nova e poderosa: MDT-48. Seu uso produz uma explosão de inteligência no usuário. O cérebro passa a associar tudo o que foi lido ou visto e elabora soluções fulminantes para os problemas que antes eram insuperáveis. Você viu um documentário de madrugada aos 16 anos sobre o concerto de supercordas? Ele está lá, no fundo da sua memória, e a pílula pode trazê-lo a tona combinado com as aulas que você já viu e associações com outros conhecimentos.

 

A droga não inventa inteligência, ela apenas permite que se utilizem todos os dados possíveis em uma capacidade nova de concentração e de resolução de desafios. O diálogo, óbvio, e com um dos mais antigos mitos pseudocientíficos do mundo: nós utilizaríamos apenas 10% do total da capacidade do nosso cérebro. Existiria, diz a lenda urbana, um campo enorme de 90% a explorar. Acho que isso evita a humilhação de perceber que, sim, utilizamos 100% da nossa capacidade e ainda somos o que somos... seria bom ter um gênio repousando nas cavernas inexploradas da nossa consciência.

 

No ano passado, li obras que diminuíram um pouco da minha ignorância sobre inteligência e cérebro. Um foi o texto do cientista Miguel Nicolelis - O verdadeiro criador de tudo: como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos. A maneira como ele analisa a evolução do cérebro humano faz pensar na maravilha e na prisão que o cérebro de cada um de nós representa. Como criamos a visão do universo? Existe uma na caverna de Lascaux, com pinturas do homem pré-histórico. Existe outra na Capela Sistina, no Vaticano. Existe uma teoria física contemporânea explicada em desenhos da Nasa. O que elas teriam em comum? O cérebro, criador de tudo, que descreve, analisa e inventa o que pode a partir do que consegue perceber.

 

A expressão "inteligência artificial" (IA) evoca os velhos medos da "síndrome de Frankenstein". Como no romance da talentosa Mary Shelley, seremos um dia destruídos por nossas criações? O substantivo evoca o melhor de nós (inteligência) e o adjetivo traz o medo (artificial). Sendo, por definição, "artificial", é algo que ajudará o "natural", ou seja, o Homo sapiens, ou rivalizará com ele, eventualmente o destruindo?

 

Para o professor do MIT, Maz Tegmark, seria bom discutir bastante e avançar em reflexões antes de dar todo o poder às novas tecnologias. As leis deveriam ser modernizadas, as desigualdades sociais diminuídas e os parâmetros éticos devem ser solidificados antes que tudo fique incontrolável. Nossa velha e humana consciência ainda é o grande desafio, e não, exatamente, a IA. De acordo com Tegmark: "Você deseja ser dono de sua tecnologia ou deseja que a tecnologia seja sua dona? O que você quer que signifique ser humano na era da IA?

 

Diante dos medos e esperanças de todo limiar de revolução tecnológica, precisamos trazer a síndrome de Frankenstein sempre para o debate. O ser criado pela costura de cadáveres e animado pela eletricidade não era, exatamente, o problema. O grande problema ético ainda está na Inteligência Natural, não na Artificial.

 

LEANDRO KARNAL Adaptado de cultura.estadao.com.br, 20/01/2021.

 

 O cérebro passa a associar tudo o que foi lido ou visto e elabora soluções fulminantes (1º parágrafo)

 

Sem alteração do sentido original, o trecho sublinhado também pode ser escrito assim:



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