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Vivemos em um mundo letrado. Isto é uma verdade, muito embora, segundo estatísticas da UNESCO, existissem cerca de 790 milhões de adultos analfabetos no mundo em 4 2010, mais do que a população da União Europeia. Até mesmo nos países africanos e asiáticos, onde se concentram adultos analfabetos, a cultura oral não é mais considerada como uma alternativa viável à cultura letrada — um modo de vida diferente, uma questão de preferência que poderia ser defendida. A vida sem as letras é um paraíso perdido, se é que já foi um paraíso. Neste nosso tempo, ler e escrever são indispensáveis para a participação na sociedade, e não há como escapar do fato de que as habilidades letradas são um determinante fundamental das perspectivas de vida de uma pessoa. Isso vale para o mundo em geral e é ainda menos discutível para os países industrializados. O analfabetismo nesses países é um estado de coisas deplorável, uma injustiça social que exclui uma pequena minoria da sociedade mais geral. A língua na modalidade escrita é parte do comportamento comunicativo diário de todas as pessoas, ativa e passivamente e, no caso dos analfabetos, ela os coloca diante de uma barreira intransponível. Por causa disso, defende-se hoje em dia que o letramento é um direito humano universal.
A escrita existe há pelo menos cinco mil anos. Embora o letramento universal seja uma conquista recente apenas em algumas partes do mundo, a escrita vem exercendo há muito tempo sua influência sobre a língua. De fato, nunca se fez uma distinção nítida entre escrita e língua, nem no discurso cotidiano nem no especializado. Por isso, talvez seja compreensível que, para eliminar a confusão e estabelecer o objeto próprio da investigação linguística, os linguistas modernos tenham enfatizado a fala, relegando a escrita a uma posição marginal. Conforme se tem declarado repetidamente, a linguística deve estudar a língua natural — isto é, a capacidade humana inata para a linguagem — já que, embora tenham nascido para falar, os seres humanos não nasceram para escrever.
Florian Coulmas. Escrita e sociedade.
São Paulo: Parábola Editorial, 2014, p.16 (com adaptações).
Segundo o texto Escrita e sociedade,