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O livro vê-se perante um concorrente que o intimida, porque disputa a mesma clientela: os que podem comprar livros são os mesmos que dispõem de recursos econômicos para adquirir e renovar seus computadores pessoais (PCs). O livro, que já constituiu a materialização mais completa da modernidade, tendo aparecido à época em que se inauguravam as revoluções que marcariam o progresso econômico e cultural da Europa ocidental (revoluções das quais ele fez parte), alcança o começo do novo milênio sem a mesma qualificação. Desde que se expandiu o uso do PC, telas, teclados e mouses passaram a encarnar o novo, já que são fruto de tecnologia mais sofisticada, que exclui a fabricação artesanal, ainda possível (e altamente valorizada em certos círculos) na produção de livros.


Contudo, não se trata de uma opção, livros e computadores não se excluem, nem o PC põe necessariamente em risco o universo do livro: se o PC se apresenta, por um lado, como seu possível antagonista, mostra-se, por outro, seu parceiro. A produção editorial ganhou com os recursos introduzidos pela informática, tendo o processo de formatação, revisão, impressão e distribuição sido facilitado graças a programas de editoração de textos, de digitalização de imagens e de tratamento de figuras.


Porém, a introdução desse novo suporte provoca determinados efeitos, já que ele se vale de códigos específicos e exige formas particulares de manipulação. Transplantada para a tela, a escrita, que sempre procurou acompanhar a fala, oferece novas possibilidades de reproduzir a oralidade, infringindo normas cristalizadas dessa representação. A escrita, no meio digital, produziu seu próprio código, não transferível automaticamente para outros contextos, e seus usuários — como poliglotas usuários de diferentes linguagens — sabem bem distinguir entre os diferentes gêneros de escrita, aplicando cada um deles em conformidade com as situações práticas.


Marisa Lajolo e Regina Zilberman. Das tábuas da lei à tela do computador:

a leitura em seus discursos. São Paulo: Editora Ática, 2009 (com adaptações).

 

Na organização retórica do texto Das tábuas da lei à tela do computador...,



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