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Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Foi, pois, uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço.

 

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal, porém, conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

 

 – Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!

 

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria, mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho – era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

 

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

 

LISPECTOR, Clarice. Uma galinha. Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 30. Disponível em: <http://www.releituras.com/clispector_galinha.asp>. Acesso em: 20 set. 2016. Adaptado.

 

No fragmento adaptado do conto “A galinha”, de Clarice Lispector, o elemento figurativo “ovo” torna-se marco importante na narrativa, pois



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