Enunciados de questões e informações de concursos
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Notícias sobre o fim do livro
Sobre o fim do livro e da era Gutenberg, tenho duas breves histórias para contar.
A primeira é um sonho, ou um pesadelo: um chip armazena uma biblioteca universal, cujo acervo é renovado por um piscar de olhos. Esse chip seria implantado no ombro, na perna ou no órgão mais vital do corpo: o coração do leitor. Bilhões de palavras no coração: há algo mais sublime? Com esse chip cravado no corpo, o leitor não teria necessidade de olhar para uma tela: a página escrita apareceria no ar, como uma holografia. Textos soltos no espaço, sem qualquer suporte. Meu sonho (ou pesadelo) parou por aí.
A outra história é coisa do passado. Conheci um piauiense, de nome Donato, dono de uma pequena pastelaria na rodoviária de São Paulo. Contou-me ele que aprendeu a ler com uma velha, vizinha da tapera onde morava, no povoado miserável de Santo Antônio dos Milagres. E passou a ler de tudo, bula de medicamento, jornal velho, o que aparecesse.
“E um dia li um livro”, disse Donato, emocionado. “Lia devagar, duas, três vezes cada frase, cada parágrafo. De vez em quando parava de ler para pensar. Era um jovem que não tinha onde cair morto. Quando ganhei um dinheirinho, abri a pastelaria. Um dia viajei para o Rio: queria conhecer o lugar em que havia sido publicado aquele livro, queria ver o edifício da editora. Não tive coragem de entrar: fiquei espiando na calçada, olhando a placa com o nome dela. Aí me deu vontade de fazer uma coisa, e fiz mesmo. Abracei as paredes, beijei as paredes da editora e beijei o livro que mudou a minha vida.”
(Adaptado de: HATOUM, Milton − Um solitário à espreita. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 199-200)
Todas as formas verbais estão corretamente empregadas, grafadas e flexionadas na frase: