Ar Frio
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É um erro achar que o horror está necessariamente associado [*] escuridão, ao silêncio, [*] solidão.Encontrei-o em pleno sol do meio-dia, no rumor de uma metrópole e em meio [*] uma pensão rústica e ordinária, com uma senhoria prosaica e dois homens robustos ao meu lado.
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Era uma mansão de quatro andares em arenito, construída, a julgar pela aparência, no fim da década de1840, com detalhes em madeira e mármore cujo esplendor manchado e encardido denunciava a decadência em relação [*] níveis de opulência outrora elevados. Sobre os quartos, grandes e espaçosos, e decorados com papéis de parede impossíveis e cornijas de estuque com ornamentos ridículos, pairava uma umidade deprimente e um resquício de cozinhas obscuras; mas o piso era limpo, as roupas de cama bastante decentes e a água quente não ficava fria ou desligada com muita frequência, de modo que comecei a encarar a pensão ao menos como um lugar tolerável para hibernar até que eu pudesse voltar de fato [*] vida. A senhoria, uma espanhola vulgar e quase barbada que atendia pelo nome de Herrero, não me aborrecia com fofocas nem com críticas a respeito da luz que permanecia acesa até o avançado da noite em meu quarto no terceiro andar; e os demais inquilinos eram tão quietos e indiferentes quanto se podia desejar, sendo a maioria deles espanhóis só um pouco acima da maior grosseria e da maior vileza. O único aborrecimento incontornável era o fragor dos bondes na rua lá embaixo.
Eu estava na pensão havia umas três semanas quando ocorreu o primeiro incidente estranho. Pelas oito horas da noite, escutei o barulho de algum líquido espalhando-se no chão e logo senti um cheiro pungente de amônia. Olhando ao redor, percebi que o teto estava úmido e gotejava; o líquido parecia vir de um canto, no lado que dava para a rua. Ansioso por resolver o problema antes que piorasse,apressei-me em falar com a senhoria; e fui informado de que o problema se resolveria logo em breve...