Aby Warburg (1866 - 1929) tornou-se uma referência no modo de se pensar a História da Arte na modernidade, por meio do projeto que idealizou a criação do seu célebre Bilderatlas Mnemosyne (Atlas de Imagens Mnemósine), nome dado em homenagem a Mnemósine, musa grega da memória. Segundo Etienne Samain: “Com Mnemósine, Aby Warburg – nutrido de uma informação livresca, escrita e erudita e possuidor de um incomum saber visual, artístico, antropológico, linguístico, histórico –, pretendia firmar sua procura de entendimento das culturas humanas. A obra, na época, agrupava da ordem de 79 painéis, reunindo umas 900 imagens. [...] Instalava, então, esses quadros de imagens nas ilhargas de sua biblioteca elíptica para que as imagens pudessem entrar em diálogo, pensar entre si, no tempo e no espaço de uma longa história cultural ocidental; para que pudessem também ser observadas, relacionadas, confrontadas na grande arquitetura dos tempos e das memórias humanas. A história da arte tradicional transfigurava-se em uma antropologia do visual. [...] Pois se Atlas lembra essa personagem da mitologia carregando o universo sobre suas costas, Mnemósine (isto é, um conjunto de 66 pranchas) era, na visão de Warburg, encarregada de “oferecer e de abrir balizas visuais não de uma história da Arte, mas de uma memória impensada da história”.
SAMAIN, Etienne. As “Mnemosyne(s)” de Aby Warburg: entre antropologia, imagens e arte. Revista Poiésis, Universidade Federal Fluminense: NITEROI, Vol. 30, 2017, pp. 29-51.