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“Unde Malum”


Os sapatinhos sem meias, a roupa encharcada, o rosto suavemente deitado sobre a areia da praia em Bodrum, na Turquia. Aylan Shenu, o refugiado sírio de 3 anos, parecia adormecido, em uma daquelas imagens de desconcertante inocência que só uma criança subitamente vencida pelo cansaço é capaz de produzir. A sensação boa dura pouco. Logo se percebe que Aylan está morto. Seu corpo inerte foi jogado na areia pelas ondas do Mediterrâneo. A legenda da foto informa que Aylan morreu afogado com a mãe, Rehan, e o irmão de 5 anos, Galip, quando o barco precário que os transportava afundou. Só Abdullah, o pai do menino, sobreviveu. Como dezenas de milhares de outros sírios vêm fazendo em desespero, os Shenu lançaram-se ao mar para fugir da guerra civil insana que arrasa o seu país.


As cenas do corpo de Aylan na areia – e, em outra foto, carregado nos braços por um policial turco – foram fortes demais mesmo para um mundo anestesiado por desgraças que chegam sem parar a bilhões de pessoas instantaneamente pela internet. A mente humana só tem a fé e a arte para não perder a razão diante de imagens como as de Aylan. Santo Agostinho, um portento da inteligência cristã, nunca conseguiu conciliar a ideia de um Deus onipotente, soberanamente bom, com a existência do mal no mundo. Sua indagação em latim “Unde malum” (“De onde vem o mal?”) atravessa os séculos sem resposta inteiramente satisfatória. No poema com esse título, o polonês Czeslaw Milosz, ganhador do Nobel de literatura em 1980, responde que o bem e o mal só existem no homem – e se a espécie humana deixar de existir eles também desaparecerão.


“El pie del niño aún no sabe que es pie” – assim o poeta chileno Pablo Neruda descreveu sua perplexidade metafísica ante os mistérios da caminhada humana. O escritor americano Ernest Hemingway famosamente venceu os amigos em uma disputa literária para ver quem conseguiria comover os demais com a história mais curta: “Vendo sapatinho de bebê. Nunca usado”. Pendendo solto dos braços do policial turco em Bodrum, os pezinhos de Aylan, dentro dos sapatos sem serventia, ainda não sabiam que eram pés. Isso é que mais dói.


(Carta ao Leitor. Veja. 9/09/2015. p. 12)

 

“Vendo sapatinho de bebê. Nunca usado”. Essa pequena história comoveu os amigos do escritor americano Ernest Hemingway, e o autor desta carta ao leitor ilustrou o seu texto com essa pequena história. Atente ao que se diz sobre essa pequena narrativa.

 

I. O primeiro enunciado da historinha de Hemingway – “Vendo sapatinho de bebê” expressa uma atividade normal, desenvolvida por muitas pessoas: vender sapatinho de bebê.

 

II. O segundo enunciado – “Nunca usado” – causa estranhamento, uma vez que não se costuma vender sapatinhos de bebê usados. Sendo isso verdade, não haveria necessidade de fazer essa observação.

 

III. O acréscimo da informação “Nunca usado” abre para o leitor a expectativa de que algo de mau, ou pelo menos desagradável, aconteceu à criança.

 

Está correto o que se diz em


Outras questões do mesmo concurso: UECE / Vest (UECE) / 2015


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