Texto 2
O texto que você lerá a seguir – o poema “Outro verde”, foi retirado da obra Delírio da Solidão, do escritor cearense de Quixeramobim Jáder de Carvalho, que nasceu em 29 de dezembro de 1901 e faleceu no dia sete de agosto de 1985. Jáder de Carvalho foi jornalista, advogado, professor e escritor: poeta e prosador. Sua obra mais conhecida é o romance Aldeota.
Outro verde
Teus olhos mostram o verde
que não é do mar.
Não lembram viagens sem fim
nem o céu a abraçar-se com as águas,
num horizonte parado,
que os marujos não alcançam.
Qual o verde dos teus olhos,
se não é o do oceano?
Não é também o das florestas
onde cabem mistérios e distâncias.
Teu olhar não tem a cor
da enseada que eu amo.
Nele não gritam tempestades,
nem afundam ou se perdem veleiros.
Não escondem braços em naufrágios
nem vozes que não se ouvem
na despedida.
O verde dos teus olhos é subjetivo.
Não sugere portos nem a foz de um rio.
Pintores, dizei-me:
qual de vós se atreveria
a copiar a cor desses olhos?
Ainda não sofreste.
Ainda não conheces a saudade.
Um dia, entre lembranças doridas,
o verde dos teus olhos mudará.
Já li nas linhas da tua mão esquerda:
tu, sem a estrela dos navegantes,
esperas
pelo navio perdido do meu amor.
(Jáder de Carvalho. Delírio da Solidão. p. 46-47.)