Enunciados de questões e informações de concursos
TEXTO para a questão
o Dedo de Deus, o dedo do alemão e o dedo do
brasileiro
Manuel Bandeira
É uma tecla muito batida pelos que procuram estudar o caráter dos brasileiros, o gosto que estes revelam pela improvisação em todos os ramos da atividade. A cada passo, se verifica o pendor deles para as tarefas improvisadas, de que não raro se saem com brilho e galhardia. Isso de se preparar longa e pacientemente para resolver os problemas próprios a uma certa especialidade, não vai muito com eles. Improvisam-se os nossos sociólogos, improvisam-se os nossos estadistas, improvisam-se os nossos linguistas.
Os nossos grandes poetas podem se contar pelos dedos(A), e nenhum tivemos até hoje capaz de uma destas obras de fôlego, como a Divina comédia, o Fausto ou os Lusíadas, onde, escolhido o tema capital, o seu autor põe ao lado das ideias mestras da cultura do seu tempo, toda a sua inteligência e toda a sua sensibilidade. Agora abancai ao zinco de um bar em dias de Carnaval e aparecendo um violão, vereis com que facilidade o malandro mais desprovido de letras inventa um despotismo de quadrinhas de desafio ou de embolada. Isso na cidade. No sertão, então, nem se fala. Para os matutos do Nordeste(B), “poeta” só é o sujeito capaz de improvisar na boca da viola. Não sei quem foi o literato que de uma feita recitou para uns cantadores do sertão algumas poesias de Bilac. Os homens ouviram calados, mas depois indagaram se Bilac era “poeta” mesmo.(C)
- Como poeta mesmo?
- Nós queremo sabê se ele é capaz mêmo de improvisá na viola(D)...
BANDEIRA, Manuel. Crônicas inéditas II, 1930-1944. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 16. (fragmento adaptado).
Manuel Bandeira apresenta um julgamento de valor à produção literária nordestina no seguinte fragmento do texto: