Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Imagens e palavras
Alguém terá dito: “Uma imagem vale por mil palavras” — frase que ganhou fama e foro de verdade. Mas o escritor e artista gráfico Millôr Fernandes, que transitou toda a sua vida entre desenhos e textos, retrucou ao desconhecido autor da frase: “Diga isso sem palavras”. Para fazer justiça à linguagem verbal, Millôr desafia qualquer imagem a formular um conceito.
Melhor será, para lembrar outra frase famosa, acreditar em “A cada um o que é seu”. A imagem tem o impacto imediato de sua aparição visível, de sua epifania impositiva. As palavras conceituais pedem uma compreensão interiorizada da construção de seu sentido. Uma fotografia faz surgir diante de nós uma captação de um elemento da realidade; já a imagem verbal se impõe também pelo som das palavras que a traduzem e depende muito de uma visualização algo fantasiosa.
Humoristas, cartunistas e redatores sabem muito bem o que podem fazer para alcançar o riso de seu público. A imagem do humor promove, por exemplo, uma discrepância entre a figura imprevista e uma expectativa convencional: o que deveria ser levado a sério se vê desvestido e exposto ao riso da surpresa. Já as palavras do humor escrito promovem basicamente um desencontro entre a gravidade de uma situação e o desbocamento verbal, ou uma alteração drástica de sentido que torna ridicula uma elocução moralista.
Como as artes não precisam se excluir, até porque muitas vezes se associam e se complementam, imagens e palavra por vezes se somam de modo a intensificar uma o sentido da outra. Outras linguagens artísticas, como a lileratura e a música, por exemplo, podem associar-se, compor canções notáveis, tanto no registro mais popular como no erudito. Digamos então que tanto a legenda de uma foto pode ser vital para contextualizar uma imagem, como uma pintura associada a um poema empresta a ele um horizonte de projeção.
(Claudionor Martinho, a editar)