#3355455 IDCAP - 2025 - Vestibular (UNEB)/"Ano Letivo 2025"

O texto seguinte servirá de base para responder à questão abaixo.

"Lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de pranto balbuciava rezas a Santa Bárbara, temendo que o nosso frágil barraco desabasse sobre nós. E eu não sei se o lamento-pranto de minha mãe, se o barulho da chuva... Sei que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Nesses momentos os olhos de minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia! Então, porque eu não conseguia lembrar a cor dos olhos dela?"

(Fragmento do conto "Olhos D´água'' de Conceição Evaristo)

Conceição Evaristo, em sua obra, "Olhos D`água", traz à tona uma discussão importante sobre a desigualdade social secular vigente no Brasil. No fragmento em destaque do conto que dá nome ao livro, tal situação pode ser observada em:

a forma como a narradora traz à reflexão o medo que a mãe dela sentia nos dias chuvosos que os arredores da moradia alagassem. Por essa razão, ela e sua família ficariam ilhadas, logo, sem condição de ter acesso à alimentação adequada para se sustentarem.
a angústia da narradora que, por ser a mais velha das irmãs, tinha a exata noção das condições da família e, portanto, estava certa de que jamais conseguiriam comprar todos os seus pertences novamente. A situação difícil também impossibilitava buscar novas oportunidades de trabalho para aquelas mulheres.
o receio de a narradora ter de enfrentar o temporal juntamente à sua família, uma vez que sua mãe tinha muito medo de a moradia fosse invadida por estranhos e ela, então, perder o pouco que tinha. Como eram todos bem pobres, não teriam condições de comprar novamente os móveis da casa nem os utensílios.
o medo que a narradora tinha de dias de chuva, pois sua mãe começava a rezar e a ação tornava-se algo ininterrupto a ponto de nenhuma das filhas poder se dirigir a ela. Tal fato, por sua vez, deixava a mãe em lágrimas de desespero já prevendo a fome por que sua família iria passar nos próximos dias.
a descrição que a narradora faz dos dias de chuva, quando era criança. Segundo ela, sua mãe reunia as filhas em cima da cama de forma a protegê-las, pois, como viviam em uma moradia imprópria, débil, a qual poderia desabar a qualquer momento, a mulher tinha muito medo.