Aluísio de Azevedo, maranhense nascido em São Luís, autor de Casa de Pensão, mantém em sua ficção relações vivas com o mundo real, demonstrando como comportamentos humanos são determinados pelo meio. Foram selecionados dois fragmentos que servem de base para a questão.
Texto II
[...]
– Bem me dizia o Simões, pensou ele. – Bem me dizia o Simões “Quando te começarem as aventuras, hás de ver o que vai por esta sociedade!” [...]
– O Simões tinha toda a razão ... principiavam as aventuras! Diabo era aquela asneira de abandonar tão intempestivamente a casa do Campos! Fora uma triste ideia, que dúvida! mas ele também não podia adivinhar quais seriam as intenções de Hortência!... O melhor por conseguinte era não se apoquentar – o que lhe estivesse destinado havia de chegar- lhe às mãos!...
E já nem pensava nisso quando subiu as escadas da casa de pensão. Sorrisos amáveis de Amelinha e de Mme. Brizard o receberam desde a entrada. Coqueiro estava na rua.
Veio à conversa o baile dessa noite. Amâncio, pela primeira vez, ia conhecer uma sala da Corte. As duas senhoras profetizavam que ele voltaria cativo por alguma carioca.
– Duvido! respondeu o estudante, a rir.
– É! disse a francesa – vocês do Norte são todos uns santinhos! Eu já os conheço! Nunca vi gente tão assanhada.
Amelinha abaixou os olhos, depois de lançar à outra um gesto repreensivo.
Mme. Brizard não fez caso e acrescentou:
– Os demônios não podem ver um rabo-de-saia!
– Loló! censurou Amelinha em voz baixa.
– Também não é tanto assim! ... contradisse o provinciano.
Mme. Brizard citou logo os exemplos de casa, até ali entre todos os seus hóspedes, só os nortistas davam sorte em questão de amor. – Um deles, um tal Benfica Duarte, chegara a raptar com escândalo uma crioula, e crioula feia!
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. Editora Ática, 1997.