Enunciados de questões e informações de concursos

O texto 2 (subdividido em seções) faz uma reflexão sobre a maneira como se comporta, em determinado momento, a sociedade brasileira, que, mais cedo ou mais tarde, teria que integrar negros e mulatos.

 

Texto 2

 

José Paulo Florenzano

 

FUTEBOL E RACISMO: O MITO DA DEMOCRACIA EM CAMPO A história do futebol brasileiro contém, ao longo de quase um século, registros de episódios marcados pelo racismo. Eis o paradoxo: se de um lado a atividade futebolística era depreciada aos olhos da “boa sociedade” enquanto profissão destinada a pobres, negros e marginais, de outro ela se achava investida do poder de representar e projetar a nação em escala mundial.

 

VÍNCULO MENOS ASSIMÉTRICO ENTRE NEGROS E BRANCOS O trem do futebol descortinava perspectivas promissoras no terreno das relações sociais. Mas embora transportasse ricos e pobres, negros e brancos, ele o fazia alocando os diversos grupos em vagões separados. Enquanto a juventude privilegiada agia de modo a reforçar as divisões internas da composição, a mocidade alegre dos subúrbios buscava franquear a passagem a fim de enriquecer a experiência da viagem. Caberia, nesse sentido, um papel de destaque aos jogadores que logravam transitar entre os diversos compartimentos.

 

LEÔNIDAS DA SILVA: IDENTIDADE AMBÍGUA DO ATLETA Seria nesta conjuntura adversa que Leônidas da Silva pegaria o bonde da história. Símbolo da proeminência adquirida pelo boleiro em detrimento do sportsman, ele encarnava a mudança destinada a apagar os últimos vestígios da marca refinada, esnobe e excludente que a juventude privilegiada procurara atribuir à prática do esporte inglês, substituindo-a gradativamente por uma feição mais popular do jogo, por uma dimensão mais nacional do futebol, por uma identidade mais ambígua do atleta.

 

RISCOS SIMBÓLICOS A realização da Copa do Brasil em 1950 viria a se constituir, neste sentido, em uma rara oportunidade. No dia da decisão contra o Uruguai sobreveio o inesperado revés. Foi, então, que os torcedores descobriram os riscos simbólicos envolvidos na tarefa de reimaginar a nação dentro das quatro linhas do campo. As reportagens da crônica esportiva elegiam o goleiro Barbosa e o defensor Bigode como bodes expiatórios, exprimindo a vontade de “descarregar nas costas” dos referidos jogadores os “prejuízos” acarretados pela derrota. Uma chibata moral, eis a sentença proferida no tribunal dos brancos.

 

A REVOLTA DA CHIBATA Nos anos 1970, por não atender às expectativas normativas suscitadas pelo estereótipo do “bom negro”, Paulo César Lima foi classificado como “jogador-problema”. Responsabilizado pelo fracasso do Brasil na Copa da Alemanha, pleiteava o direito de voltar a vestir a camisa verde e amarela. O rumor de que o banimento tinha o respaldo de um ministro de Estado, não o surpreendia: “Se for, mais uma vez vou ter a certeza de que sou um negro que incomoda muita gente”. E acrescentava: “Não vou ser um negro tímido, quieto, com medo e temor das pessoas”. Dessa maneira, nas páginas de O Estado de S. Paulo, Paulo César esboçava a revolta da chibata no futebol brasileiro. Enquanto Barbosa e Bigode, sem alternativa, suportaram com dignidade o linchamento moral na derrota de 1950, Paulo César contra-atacava os que pretendiam condená-lo pelo insucesso de 1974, reeditando as acusações de “covarde” e de “mercenário” – as mesmas dirigidas a Leônidas no passado. Paulo César, no entanto, assumia, sem ambiguidades, as cores e as causas defendidas pela esquadra dos pretos em todas as esferas da vida social. “Sinto na pele esse racismo subjacente”, revelou certa vez à imprensa francesa: “Isto é, ninguém ousa pronunciar a palavra racismo. Mas posso garantir que ele existe, mesmo na Seleção Brasileira”. Sua ousadia consistiu em pronunciar a palavra interdita no espaço simbólico utilizado pelo discurso oficial para reafirmar o mito da democracia racial.

 

José Paulo Florenzano é professor de Antropologia da PUC-SP e autor do livro “A Democracia Corinthiana” (2009). Texto adaptado.

 

Pelo texto de Florenzano, conclui-se que os grandes pecados de Paulo César consistiam em ser negro e


Outras questões do mesmo concurso: UECE / Vest (UECE) / 2014


Questões comentadas
Questões sem comentário
1ª Fase - Prova de Conhecimentos Gerais

2ª Fase - 1º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova II (Biologia)

2ª Fase - 1º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova II (Espanhol)

2ª Fase - 1º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova II (Francês)

2ª Fase - 1º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova II (Inglês)

2ª Fase - 1º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova II (Matemática)

2ª Fase - 1º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova II (Português)

2ª Fase - 2º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova III (Física)

2ª Fase - 2º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova III (Geografia)

2ª Fase - 2º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova IV (História)

2ª Fase - 2º Dia - Prova de Conhecimentos Específicos - Prova IV (Química)

spinner
Ocorreu um erro na requisição, tente executar a operação novamente.