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Para entender a atual e multifacetada crise cultural, precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e analisar a situação no contexto da evolução cultural humana. Os historiadores estão longe de elaborarem uma teoria abrangente da dinâmica cultural, mas parece que todas as civilizações passam por processos cíclicos semelhantes de gênese, crescimento, colapso e desintegração.
Segundo os antigos filósofos chineses, todas as manifestações da realidade são geradas pela interação dinâmica entre dois pólos de força: o yin e o yang. Heráclito, na Grécia antiga, comparou a ordem do mundo a “um fogo eternamente vivo que se acende e apaga conforme a medida”. Empédocles atribuiu as mudanças no universo ao fluxo e refluxo de duas forças complementares, a que chamou amor e ódio.
Entre os mais notáveis, mesmo que mais hipotéticos, estudos dessas curvas de ascensão e queda de civilizações, cumpre-nos citar a importante obra A Study of History , de Arnold Toynbee. Os padrões culturais descritos por Toynbee parecem ajustar-se muito bem à nossa situação atual. Ao observarmos a natureza dos nossos desafios, podemos reconhecer a confluência de diversas transições.
A primeira transição, e talvez a mais profunda, segundo esse autor, deve-se ao lento, relutante, mas inevitável declínio do patriarcado. A periodicidade associada ao patriarcado é de, pelo menos, três mil anos, e são mínimas as informações de que dispomos acerca das eras pré-patriarcais. Tem sido extremamente difícil entender o poder do patriarcado, por ser ele totalmente preponderante. Ele tem influenciado nossas idéias mais básicas acerca da natureza humana e da nossa relação com o universo — a natureza do “homem” e a relação “dele” com o universo, na linguagem patriarcal. O patriarcado era o único sistema que, até data recente, não tinha sido abertamente desafiado em toda a história documentada e cujas doutrinas eram tão universalmente aceitas que pareciam constituir leis da natureza; na verdade, eram, usualmente, apresentadas como tais. Hoje, porém, a desintegração do patriarcado tornou-se evidente. O movimento feminista é uma das mais fortes correntes culturais dos tempos atuais e terá profundo efeito sobre a futura evolução humana.
A segunda transição, que terá profundo impacto sobre nossa vida, nos é imposta pelo declínio da era do combustível fóssil. Os combustíveis fósseis têm sido as principais fontes de energia da moderna era industrial e, quando se esgotarem, essa era chegará ao fim. Esta década será marcada pela transição da era do combustível fóssil para uma era solar, acionada por energia renovável oriunda do sol; essa mudança envolverá transformações radicais nos atuais sistemas econômicos e políticos.
A terceira transição também está relacionada com valores culturais. Envolve o que hoje é freqüentemente chamado de “mudança de paradigma” — uma mudança profunda no pensamento, percepção e valores que formam determinada visão da realidade. Esse paradigma compreende certo número de idéias e valores que diferem nitidamente dos da Idade Média, valores que estiveram associados, na cultura ocidental, à revolução científica, ao Iluminismo e à Revolução Industrial. Nesse paradigma, incluem-se a crença de que o método científico é a única abordagem válida do conhecimento e a concepção de que a vida em sociedade é uma luta competitiva pela existência. Nas décadas mais recentes, concluiu-se que todas essas idéias e esses valores necessitam de uma revisão radical.
De acordo com nossa ampla perspectiva da evolução cultural, a atual mudança de paradigma faz parte de um processo mais vasto, de uma flutuação notavelmente regular de sistemas de valores, que pode ser apontada ao longo de toda a civilização ocidental e na maioria das outras culturas.
Fritjof Capra. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982, p. 24-9 (com adaptações).
Julgue o item a seguir, que se refere à compreensão, à interpretação e aos aspectos gramaticais do texto.
No período “ Tem sido extremamente difícil entender o poder do patriarcado, por ser ele totalmente preponderante”, não se contrariaria o sentido original do texto, se a expressão grifada fosse substituída por hegemônico.