Duplo olhar
Contou o ator Lima Duarte, numa entrevista para a TV, que em seu primeiro dia de aula foi levado pelo pai severo, cada qual em seu cavalo, à distante escola daquela zona rural. Ouviu do pai: “Menino, deixe seu cavalo amarrado, na sombra daquela árvore lá, de modo que você, da sua carteira, não o perca nunca de vista. Garanta esse lugar na sala, hein? E não se esqueça: um olho no cavalo, outro na professora”.
Mais tarde, já como um ator consagrado, Lima Duarte mostrou-se um leitor e intérprete apaixonado de Guimarães Rosa. Não terá sido à toa esse seu interesse: o grande Rosa, em sua literatura, com tanto sertão bruto, tanta poesia da natureza e tantas palavras mágicas de sua linguagem tão singular, parece ter seguido aquela mesma orientação do pai do ator: “um olho no cavalo, outro na professora”.
É bom, de fato, lembrar sempre que o realismo rústico da vida, os ideais da educação e a força da arte podem e devem combinar-se com sabedoria.
(Felipe de Athaide, a editar)