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Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.

Longe de mim a convicção de que a palavra arcaica diz a verdade, e de que a nós cabe a ela retornar − armados dos novos meios da exegese − para descobrir os segredos permanentes do “coração humano”, da “natureza humana”, do “estar-no-mundo”. Por haver enunciado um primeiro sistema de representação − mais simples, mais vigoroso −, a palavra arcaica não tem outro privilégio, na minha opinião, se não o de ter sido a primeira a aparecer, e de ter por vezes imposto às eras consecutivas conservá-la na memória (consciente ou inconscientemente), para a repetir, transpor ou contradizer. O valor etimológico que se tem o direito de atribuir à palavra arcaica não implica mais do que uma relação de derivação: para atribuir-lhe uma autoridade superior, seria preciso admitir, por princípio, que tudo que foi anunciado no começo conservou a mais alta validade possível. O que foi proferido, imaginado, narrado na mais distante profundeza temporal a que possamos remontar não faz parte, por isso, das bases mais “profundas” do indivíduo. [...]

 

No entanto, a imagem do passado conservado é sedutora. Essa imagem não cessou de nos manter sob seu encanto. Para justificá-la, é comum tomar de empréstimo à biologia a noção de herança filogenética. Conhece-se o uso que dela fez Freud, com a ideia do “fantasma originário” etc. Mitos e arquétipos reclamam o mesmo estatuto: sua antecedência, na ordem genética, parece dever assegurar-lhes uma posição e uma função centrais, na ordem estrutural. Respeitamo-los como se, por pertencer ao passado da espécie, adquirissem títulos suficientes para constituir a interioridade (o dentro do indivíduo). Quem quer que, a partir daí, se pusesse à escuta da palavra arcaica, empreenderia uma viagem para dentro, orientar-se-ia para esse lugar nuclear de si próprio em que perdura e persiste a origem... Pensamento sedutor, e cuja sedução está ligada a um postulado que escapa a toda demonstração: esse postulado é o do caráter universal e pregnante da palavra arcaica (ou do acontecimento arcaico). Na falta do que não se compreenderia que sua herança tenha podido inscrever-se posteriormente em todos os indivíduos. [...]


(Jean Starobinski. À guisa de epílogo: “Odeio como as portas do Hades...”. In As máscaras da civilização: ensaios. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 261-262)

   

A expressão que está adequadamente traduzida, considerado seu contexto, é:



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