Enunciados de questões e informações de concursos
Atenção: A questão refere-se ao texto abaixo.
Adeus, caligrafia
O anúncio do fim dos exercícios para aprimoramento da letra cursiva – as velhas práticas de caligrafia – ocorreu recentemente em Indiana, nos Estados Unidos. Dezenas de escolas já adotaram o currículo que desobriga os estudantes de ter uma “boa letra” – já dada como anacronismo. O fim do ensino da letra cursiva nos EUA provocou no Brasil uma onda, se não de protestos, ao menos de lamento e nostalgia. As lamúrias têm um precedente ilustre: “A escrita mecanizada priva a mão da dignidade no domínio da palavra escrita e degrada a palavra, tornando-a um simples meio para o tráfego da comunicação”, queixou-se, há quase setenta anos, o filósofo Martin Heidegger. “Ademais, a escrita mecanizada tem a vantagem de ocultar a caligrafia e, portanto, o caráter do indivíduo”. Heidegger reclamava, numa palestra que fez em 1942, da adoção progressiva das máquinas de escrever.
Os jovens americanos nunca escreveram tanto como hoje. Segundo estudos realizados recentemente, o adolescente daquele país manda e recebe todo mês cerca de 3.300 mensagens de texto por celular. O fim do ensino da letra cursiva reflete esses novos hábitos – um dia também foi preciso tirar do currículo a marcenaria para meninos e a costura para as meninas.
As crianças que deixarem de aprender letra cursiva (também já chamada de “letra de mão”) pagarão um certo custo cognitivo, ao menos segundo alguns estudiosos. A escrita manual estimularia os processos de memorização e representação verbal. A prática do desenho de letras favoreceria a atividade cerebral em regiões ligadas ao processamento visual.
Mas a substituição da escrita manual pela digitação não assusta o neurocientista Roberto Lent. “Não há grande diferença entre traduzir ideias em símbolos com movimentos cursivos ou por meio da percussão de teclas. Ambas são atividades motoras e envolvem grupos neuronais diferentes da mesma área do cérebro”, afirmou. Para ele, as implicações culturais da mudança são mais preocupantes do que as de fundo biológico. “Será interessante para a humanidade não saber mais escrever a mão?” – indaga. O tempo dirá.
(Adaptado da Revista PIAUÍ 59, agosto/2011. p.74)
Em relação ao progressivo abandono da escrita cursiva, as posições do filósofo Martin Heidegger e do neurocientista Roberto Lent