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Após o fim de um relacionamento, um amigo fez uma viagem às Ilhas Maldivas. Foi sozinho para um hotel fantástico, onde pretendia passar seu aniversário calmamente. Por tradição, o hotel comemora o aniversário dos hóspedes e, ao final de seu jantar, uma comitiva de garçons com um bolo de velas acesas aproximou-se de sua mesa solitária cantando “Happy birthday”. Foi um horror suportar os olhares de piedade dos turistas nas outras mesas.


A pessoa sozinha é vista como uma fracassada. Há algo de errado com ela, pensam. No passado, o maior terror das garotas era ficar para tia, ou seja, solteirona. Era ela quem cuidava dos pais velhinhos. Depois, ia morar na casa de algum irmão ou irmã, onde era tratada como um estorvo, embora cozinhasse, lavasse e passasse. Na divisão da herança, ficar com um pedaço de terra para quê, se era sozinha? No máximo, um enfeite de porcelana que pertencera à mãe.


Uma família é definida pelo encontro de duas pessoas que se amam e constroem um lar. Mas se as famílias estão mudando, o amor também não? A transformação começa já no vocabulário. Antes namorada era alguém com quem se pretendia um compromisso. Hoje, pode ser simplesmente uma pessoa com quem o rapaz esteja saindo, uma espécie de amiga íntima, sem outros planos. Um casal se apresenta como “meu marido” e “minha mulher”. Mas de fato seriam, no conceito de antigamente, namorados. Estão juntos, mas em casas separadas. As palavras foram se tornando fluidas. "Ficar” é uma agarração sem compromisso. “Ficante” é alguém que se vê até com frequência, mas não é namoro. Mas a ficante às vezes é apresentada como namorada ou mulher. Apresenta-se uma amiga que de fato é namorada. Alguém fala em amante? É namorada. Ou até noiva. Mas o noivado não é resultado de um compromisso. Só de um dia especialmente mais amoroso. Assim como “noivaram”, param de se falar. Ou a pessoa diz que está namorando. E depois descubro que ainda não conheceu o par. É só pela internet.


A confusão de significados mostra que o amor romântico, a união de duas almas dos poetas, está desaparecendo. As pessoas sonham com ele. Mas relacionamentos são fluidos. Basta uma noite para dizerem que estão casadas! Ninguém suporta ficar sozinho. Cada vez com mais frequência, ficam sozinhas junto com alguém! Ou se apaixonam, mas só dura algumas semanas. O amor não é duradouro nem fator de união das famílias, como no passado. Para “casar”, basta emprego. Mas se os dois têm, é fácil separar. Não é necessário um par para sobreviver. Mas todo mundo quer um amor, dá para entender? Ninguém quer ser o solitário num restaurante no dia do aniversário. Só que eu vejo, cada vez mais, as pessoas tendo relações fugazes. E já se preparam para uma vida solitária, de eternos “namorados”.


(Walcyr Carrasco. “O amor é necessário?”. www.epoca.globo.com. 18.11.2015. Adaptado)

 

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