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Leia trecho do Conto de Raul Pompeia para responder à questão.
A andorinha da torre
Desde muito tempo que o serviço da torre da Igreja de X estava confiado ao velho Emílio...
Era aquele homem de barbas longas e brancas, espécie dessas figuras com que se costuma fazer a imagem mítica dos grandes riose, era aquele velho que via-se de tarde, à janela da torre sob a cúpula enorme do sino grandea, olhando vagamente para o espaço, sem dar atenção ao burburinho da cidade, que circulava nas ruas lá embaixo...
Os mais antigos moradores do lugar lembravam-se de que Emílio fora sempre o mesmo homemc de barbas longas e brancas, o mesmo, como a ruína consagrada pelo tempo, que nunca fica mais velha. Respeitava-se muito ao velho sineiro. Era o mais honrado dos homens e, além disso, era o avô da mais galante criança que se tem visto.
Por aqueles cinco quarteirões em volta não havia quem não gostasse da andorinha da torre. Festejavam muito aquela criança, davam a ela doces e beijos que não havia mãos a medir; sentiam só que ela fugisse tanto a meter-se na torre com o avô e esquecesse pelos velhos amigos de bronzeb que moravam lá no alto as pessoas da cidade que tanto a queriam.
Mas como havia de ser se ela amava perdidamente os seus sinos e o seu avô?... Achava os sinos frios demais e pachorrentos como uns homens de idade, mas, em compensação, admirava- os, quando vovô Emílio despertava-lhes a sanha e os fazia pularem, voltearem como clowns*, precipitarem-se no espaço como se fossem desabar e ressurgirem para o alto, com a boca largamente aberta, como um sorriso de gigante satisfeito.
A pequena Rita admirava os sinos. Esta admiração transformava-se em amorosa simpatiad. Estranhava no fundo do espírito aqueles monstros boquiabertos que sabiam ser igualmente a imobilidade e o turbilhão, o silêncio e a trovoada; ajudava o avô a tratá-los, limpar-lhes o bojo profundo e escuro, clarear-lhes os dourados de fora, esgravatar-lhes os interstícios dos relevos que os enfeitavam...
Havia amor de família naquele pequeno mundo que vivia na torre.
(Raul Pompeia, A andorinha da torre. Em: https://www.biblio.com.br. Adaptado. Acesso em 12.09.2024) * palhaços
O conto, escrito no século XIX, apresenta colocação pronominal desabonada pela norma-padrão atual. Isso se evidencia na passagem: