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Texto para o item.
O registro da presença de doenças remonta à Antiguidade, e a explicação monocausal de origem mágico‐religiosa — fatores sobrenaturais, elementos básicos da natureza, castigos divinos, miasmas — permaneceu até a Idade Moderna. No final do século XIX, a partir de um saber elaborado da humanidade, o pensamento monocausal, fundamentado, cientificamente, pela descoberta das bactérias, explicou os problemas de saúde por meio da relação agente e hospedeiro.
Essa vertente ecológica evoluiu a partir da incorporação da multicausalidade: múltiplos fatores (idade, sexo, renda, ocupação, entre outros) vinculados ao hospedeiro, em determinado ambiente, provocam desequilíbrio, o que acarreta o surgimento das doenças. Assim, caracterizou‐se a tríade agente, hospedeiro e ambiente.
A relação causa e efeito de cunho mono ou multicausal tem caráter individual, enfatiza a natureza biológica da doença e caracteriza o predomínio do pensamento clínico. A saúde é entendida ou representada como ausência de doença e ganha dimensão social a partir da visão capitalista emergente. A organização dos serviços começa a ser medicamente definida e tem como objetivo colocar à disposição da população serviços preventivos e curativo‐reabilitatórios acessíveis.
Apesar da dimensão social, a prática da atenção médica tradicional exclui a integralidade e o caráter coletivo das doenças, traduzindo, para essa prática, as queixas dos doentes, o que permite que espancamentos virem hematomas, que dramas e conflitos sejam captados e tratados como patologias ou doenças mentais, que problemas familiares e sociais se transformem em problemas estritamente biológicos e atinentes aos atos médicos. Na maioria das vezes, esses atos são traduzidos em medicamentos, símbolos contemporâneos da cura e do bem‐estar.
Todavia, há quase dois séculos, no início do capitalismo industrial, Louis René Villerme, na França, e Rudolf Virchow, na Alemanha, propuseram que os remédios para as epidemias seriam prosperidade, educação e liberdade. Em 1826, Villerme, ao estudar a mortalidade em Paris, demonstrou a relação entre problemas sociais e doença. Em 1847, Virchow, ao investigar epidemias em distritos locais, concluiu que as causas dessas tinham caráter social. No célebre estudo sobre a epidemia de cólera em Londres, John Snow evidenciou que o foco da doença estava localizado nas regiões mais pobres e desprovidas de saneamento básico.
Essa corrente de pensadores da época comprovou as relações entre saúde e qualidade de vida, inspirando outros pesquisadores, técnicos e políticos de nossos dias, ao indicar que os determinantes da saúde são geralmente não biológicos e externos aos sistemas de saúde e que a morbimortalidade cai quando melhoram a disponibilidade e a qualidade da água, do alimento e da educação, as condições de trabalho, renda e lazer, a preservação do meio ambiente, entre outros fatores.
Amauri Moraes dos Santos. Desafios e oportunidades do farmacêutico na promoção da saúde. Infarma [Conselho Federal de Farmácia], v. 17, n.o 5‐6, 2005, p. 73 (com adaptações).
Julgue o item quanto à estruturação linguística do texto.
pelo fato de “trabalho, renda e lazer” complementarem “as condições”, a correção gramatical seria mantida se houvesse a inserção do vocábulo de antes dos dois últimos elementos, da seguinte forma: as condições de trabalho, de renda e de lazer.