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Texto 3 para responder à questão.


É a história da emancipação da escravatura entre nós. Outrora a escravidão pareceria fadada à perpetuidade neste País. Falar em extingui-la seria uma blasfêmia. Fizeram-na esposar a lavoura, cuidando uni-las para sempre. A nação tinha edificado a sua fortuna sobre um crime, consagrando-o nos seus códigos como uma necessidade social.


Hoje o princípio emancipador, difundido pela civilização, lavrou por toda a parte.


Na Europa e na América desapareceu a escravidão.


Só nós alimentamos no seio esta ignomínia.


A pressão formidável das ideias cresce de dia para dia em volta de nós como um oceano prenhe de tempestades.


No meio de tudo isto o que fez o governo? Nada; absolutamente nada!


A fala do trono de 1869 é uma vergonha indelével. O Sr. D. Pedro II que, em 1867 e em 1868, havia proclamado solenemente a urgência da reforma abolicionista, que tinha celebrado compromissos públicos com o País e com a Europa, que alardeava de todo modo tendências humanitárias, vem rasgar aos olhos do mundo o único título meritório com que atéhoje podia ufanar-se o despotismo de sua autoridade retratando com o silêncio todas as suas promessas para envolver-se em uma abstenção misteriosa e injustificável.


E ainda há quem diga que a emancipação neste País não é questão de partidos!


Sim, não devia sê-lo.


Mas a índole mesquinha de nossa política tem convertido esse reclamo da consciência nacional em arma de hostilidades.


Algum dia, quando a liberdade não for mais o privilégio dos brancos no Brasil, quando a posteridade examinar os nossos feitos com o facho da História na mão, a justiça dos vindouros há de gravar na memória do Partido Conservador o estigma da reprovação eterna, porque ele sacrificou aos interesses momentâneos do poder o interesse imorredouro da verdade; aos cálculos estéreis do egoísmo as necessidades imperiosas do futuro, e à pequenhez das considerações pessoais os direitos inalienáveis de uma raça escravizada.


Não protesteis! Se a emancipação, em 1867 e em 1868, era tão urgente, que o imperador a mandava estudar pelo conselho d’Estado, e a consignava nos discursos da coroa como a necessidade capital do País, invocando para ela a reflexão do parlamento, como é que de um ano para o outro esta necessidade urgente e imediata torna-se tão secundária, tão indiferente, tão remota que nem sequer merece ser mencionada na fala do trono?


Felizmente, porém, há um preceito e um fato de observação que nos animam.


O primeiro é que, desde que a verdade chega a amadurecer com os acontecimentos, cada embaraço com que trabalhamos por contrariá-la é um acréscimo de força para a sua multiplicação.


O segundo é o imponente movimento do espírito nacional que se vai formando lentamente no País.


A servidão em que temos vivido até hoje, a ausência completa de animação política do País, tem-nos habituado a desdenhar esses fatos, que, sob a modéstia de suas feições,ocultam graves sistemas de regeneração pública.


BARBOSA, Ruy (2013-11-06T22:58:59). Obras de Ruy Barbosa. Biblioteca Digital. Edição do Kindle, com adaptações.

 

Considerando as ideias contidas no texto, julgue (C ou E) o item a seguir.

 

A despeito dos fatos relatados no texto, observa-se algum otimismo com relação ao futuro do País no que diz respeito à emancipação da escravatura.



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