Sobre o Barroco, Alfredo Bosi (História concisa da literatura brasileira, 2015) faz as seguintes considerações:
A correspondência faz-se íntima na poesia dos estudantes boêmios, vivendo na província uma existência doentia e artificial, desgarrada de qualquer projeto histórico e perdida no próprio narcisismo. Como seus ídolos europeus, nossos artistas exibem fundos traços de defesa e evasão, que os leva a posições regressivas, no plano da relação com o mundo e no das relações com o próprio eu.
Importa distinguir dois momentos ideais nessa literatura: a) o momento poético que nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da tradição clássica e de formas bem definidas; b) o momento ideológico, que se impõe no meio do século, e traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Resta ao escritor a religião da forma, a arte pela arte, que daria um sentido e um valor à sua vida cerceada. O supremo cuidado estilístico, a vontade de criar um objeto novo, imperecível, imune às pressões e aos atritos que desfazem o tecido da história humana originam- se e nutrem-se do mesmo fundo radicalmente pessimista que subjaz à ideologia do determinismo.
As novas atitudes de espírito almejam a apreensão direta dos valores transcendentais, o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado, e situam-se no polo oposto da ratio calculista e anônima. Não tentam, porém superá-la, pelo exercício de outra razão mais alta e dialética; as suas armas vão ser as da paixão e do sonho, forças incônscias que a Arte deveria suscitar magicamente.