São tantos os espaços para a dita participação popular nos meios de comunicação que o ouvinte, telespectador ou leitor nem sabe mais como dar conta de tanta interatividade. Esse montante de ferramentas e recursos buscados pelos programadores está enterrando o que poderia ser um instrumento de inclusão na comunicação social.
Esse processo em nada se diferencia de outro já muito conhecido pelos estudiosos da comunicação: a proliferação demasiada de determinados espaços acaba por apagá-los por si mesmos. Pode-se considerar tal fenômeno, claramente, em relação aos outdoors. Já não há espaços de visibilidade claros dentro da maioria dos ambientes urbanos, mas, sim, uma diversidade de cores, formas e mensagens que passam despercebidas e simplesmente acabam por gerar a tão conhecida poluição visual.
Vivencia-se um momento de poluição interativa, pode-se dizer. Em busca de entrar em um novo modelo de comunicação, propagado, grosso modo, como o formato que mais traz audiência atualmente, os comunicadores, em geral, e principalmente as empresas de comunicação como um todo, promovem o uso da mídia como canal interativo.
Pergunta-se, no entanto: que interatividade é essa? Quem está realmente interessado em saber qual a banda mais votada da semana? Ou os sufrágios midiáticos, intrinsecamente, representam alguma modificação na comercialização dos produtos culturais, servindo como pesquisa implícita sobre gostos momentâneos do público?
É preciso deixar claro que não é essa a interatividade pretendida por quem a entende como fomentadora de cidadania, no sentido de permitir a construção de uma mídia pluralista. A intensidade de reação do público em relação ao que é ofertado diretamente pelas empresas de mídia não contribui em nada para a criação de espaços plurais — ao fazer uma ligação ou enviar um email para qualquer tipo de escolha, o sujeito tem postos diante de si apenas caminhos já prontos, sem possibilidades de mudar o que lhe foi ofertado, sem chances de criar novos rumos, democratizadores, para a comunicação de massa.
Valério Cruz Brittos e Ana Maria Rosa. A superinteratividade contemporânea.
Internet: <www.direitoacomunicacao.org.br> (com adaptações)