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TEXTO 3


Meu Caro Amigo


Chico Buarque


Meu caro amigo, me perdoe, por favor

Se eu não lhe faço uma visita

Mas como agora apareceu um portador

Mando notícias nessa fita

 

Aqui na terra tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll

Uns dias chove, noutros dias bate o sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa

                                                 [aqui tá preta

 

Muita mutreta pra levar a situação

Que a gente vai levando de teimoso e de

                                                          [pirraça

E a gente vai tomando que também sem a

                                                          [cachaça

Ninguém segura esse rojão

 

Meu caro amigo, eu não pretendo provocar

Nem atiçar suas saudades

Mas acontece que não posso me furtar

A lhe contar as novidades

 

É pirueta pra cavar o ganha-pão

Que a gente vai cavando só de birra,

                                                  [só de sarro

E a gente vai fumando que, também,

                                           [sem um cigarro

Ninguém segura esse rojão

 

Meu caro amigo, eu quis até telefonar

Mas a tarifa não tem graça

Eu ando aflito pra fazer você ficar

A par de tudo que se passa

 

Muita careta pra engolir a transação

Que a gente tá engolindo cada sapo no

                                                    [caminho

E a gente vai se amando que, também,

                                           [sem um carinho

Ninguém segura esse rojão

 

Meu caro amigo, eu bem queria lhe

                                                        [escrever

Mas o correio andou arisco

Se me permitem, vou tentar lhe remeter

Notícias frescas nesse disco


A Marieta manda um beijo para os seus

Um beijo na família, na Cecília e nas crianças

O Francis aproveita pra também mandar
                                                     [lembranças

A todo o pessoal

Adeus!

 

BUARQUE, Chico. Phonogram, 1976.

Considerando que a letra da canção “Meu caro amigo” foi escrita em 1976, um momento de repressão a qualquer denúncia ao governo e aos abusos estatais ou a manifestações contrárias ao regime, constata-se que Chico Buarque faz da música uma das principais formas de protestar indiretamente, para evitar a censura, espalhar uma mensagem de resistência e conscientizar a população. Fruto de uma parceria com Francis Hime, a canção foi criada como uma tentativa de burlar o regime por meio do envio de notícias do Brasil a seu amigo Augusto Boal, que vivia no exílio em Lisboa. Atente para o que se diz a seguir a respeito dessa canção e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.
( ) A expressão “Muita mutreta pra levar a situação” (linha 36) revela o esforço do eu lírico para suportar as dificuldades.
( ) O eu lírico mostra que para segurar “esse rojão” (linhas 41, 51 e 61) o remetente da carta busca refúgio em prazeres momentâneos como a cachaça, o cigarro e o amor.
( ) O autor cita nomes de pessoas reais: Marieta, Francis e Cecília para organizar um discurso que fala de si próprio, passando a ideia da realidade dentro de uma ficção.
( ) O tom formal da mensagem permite identificar uma relação de distanciamento entre o emissor e o seu “caro amigo” (linhas 42, 52, 62). A sequência correta, de cima para baixo, é:



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