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TEXTO 2
RITA
No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus cinco anos.
Seus cabelos castanhos — a fita azul — o nariz reto, correto, os olhos de água, o fino riso, engraçado, brusco...
Depois um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem medo, mas séria, com dignidade.
Rita ouvindo música; vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o nada que ele sabe das coisas, mas pegando dele seu jeito de amar — sério, quieto, devagar.
Eu lhe traria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e também a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cutia; e o córrego; e a nuvem tangida pela viração.
Minha filha Rita em meu sonho me sorria — com pena deste seu pai, que nunca a teve.
(Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas. p.308.)
Leia atentamente a informação que vem a seguir:
Conta-se que, a pedido de Fernando Sabino, Rubem Braga fez a seguinte descrição de si mesmo: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento".
Com base na informação anterior, analise as seguintes afirmações.
I. O que Rubem Braga diz em Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte está em consonância com o imediatismo e a transitoriedade do gênero crônica.
II. Rubem Braga constrói duas imagens — a do marido e a da máquina de escrever — para definir o escritor que vive de escrever crônicas. Por essas imagens, entende-se que o cronista se obriga a escrever em dias pré-determinados.
III. As imagens salientadas no item II também traduzem a insatisfação comum a todo cronista com o automatismo que domina seu trabalho e acaba prejudicando sua inspiração e seu estilo.
É correto o que se afirma