Enunciados de questões e informações de concursos
A internacionalização da economia é um fenômeno constitutivo do capitalismo, o que não significa que haja uma única maneira de lidarmos com os processos que a constituem. É fácil, hoje em dia, confundir as limitações crescentes impostas ao Estado-nação com a construção de um espaço de livre circulação dos indivíduos, promovido pelo movimento desembaraçado de mercadorias e capitais. Os entusiastas da globalização asseguram que a liberdade humana decorre do impulso natural do homem à troca, ao intercâmbio, à aproximação por meio do comércio. Adam Smith corretamente chamou a atenção para o caráter libertador da economia mercantil capitalista e para as suas potencialidades. Marx, herdeiro e defensor das postulações do Iluminismo, indagou se as relações de produção e as forças produtivas do capitalismo permitiriam, de fato, a realização da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
O capitalismo pode ser definido como a coexistência entre a enorme capacidade de criar, transformar e dominar a natureza, suscitando desejos, ambições e esperanças, e as limitações intrínsecas à sua capacidade de entregar o que prometeu. Não se trata de perversidade, mas do seu modo de funcionamento.
Na visão de Elizabeth Roudinesco, o sujeito moderno, aquele “consciente de sua liberdade, mas atormentado pelo sexo, pela morte, pela proibição”, é substituído pela concepção “mais psicológica de um indivíduo depressivo que foge de seu inconsciente e está preocupado em retirar de si a essência de todo o conflito”.
Os trabalhos de destruição da subjetividade moderna são realizados por uma sociedade que precisa exaltar o sucesso econômico e abolir o conflito. As ciências humanas e sociais contemporâneas exprimem essas necessidades da sociedade capitalista, ou seja, desse sujeito abstrato, mediante duas visões: a universalidade naturalista, deduzida de disciplinas como a neurociência ou a genética, e a diversidade do culturalismo empírico.
Para os primeiros, os males do mundo podem ser solucionados com doses maciças de Prozac ou de qualquer substância química capaz de aliviar o sofrimento dos “aparelhos biológicos”.
Para os outros, os do culturalismo, o melhor é abandonar as dores que acompanham a constituição de um saber universal e eternamente acabado, refugiando-se na completude do mundo mítico e mágico das verdades particulares e supostamente originárias. As duas visões do sujeito, aparentemente antitéticas, têm em comum o horror à diversidade concreta e irredutível do mundo da vida. Esse horror não pode ser aplacado pela sociabilidade do mercado que transforma o outro em inimigo-competidor.
Luiz Gonzaga Belluzo. O insaciável moloch. In: Carta Capital, 22/10/2008, p. 37-8 (com adaptações).
De acordo com o texto, assinale a opção correta.