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TEXTO

O dilema das definições


A ciência estabelece que funções antes consideradas universais, como "sujeito" e "predicado", são mais arbitrárias do que se imaginava.


Você já deve ter ouvido estas definições muitas vezes: "Sujeito é aquele de quem se diz algo.", "Predicado é aquilo que se diz do sujeito.", "Objeto direto é aquele que sofre a ação.", "Objeto indireto é aquele que se beneficia da ação."

É possível até que você use essas definições quando bate aquela dúvida sobre concordância ou regência, não é? No entanto, apesar de correntes, elas não têm fundamento científico, afinal são muito anteriores ao nascimento da ciência da linguagem (mais precisamente, 2 mil anos anteriores!). Além disso, por remontarem à Grécia antiga, são definições muito mais filosóficas do que linguísticas e absolutamente centradas na língua grega, sem qualquer consideração pela estrutura de outras línguas.

Pode-se dizer que foram uma tentativa legítima (principalmente considerando-se a época em que foi feita) de explicar fatos linguísticos, mas que está longe de ter sido bem-sucedida.

O fato é que a análise de línguas empreendida na primeira metade do século 20, aliada à coleta de dados e ao estudo comparado de um número extraordinário de idiomas de várias partes do mundo, resultou na derrubada de muitos dogmas da gramática.

Um exemplo foi a sintaxe translativa de Lucien Tesnière, publicada em 1959 no livro Éléments de Syntaxe Structurale, a qual demonstrou que o único termo essencial da oração nas línguas ocidentais é o verbo.
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Primeiro, nem todo verbo exprime ação. Afinal, que ação é expressa por "ser", "estar", "ter", "dormir"? Em segundo lugar, o sujeito só pratica a ação se o verbo estiver na voz ativa; na passiva, o sujeito sofre a ação. Aliás, há verbos supostamente ativos que não expressam ação realizada, mas sofrida: é o bebê que pratica a "ação" de nascer ou é a mãe que pratica a ação de parir? (Não por acaso, em inglês, "nascer" é to be born, literalmente, "ser parido".) Logo, essa definição de sujeito é, no mínimo, capenga.

Quanto à ideia de que o sujeito é aquele sobre quem se declara algo, Marcos Bagno, da Universidade de Brasília, questiona: na oração "Nesta sala cabem trinta pessoas", o sujeito é "trinta pessoas", mas não se declara algo sobre as pessoas e sim sobre a sala.

Tudo isso ocorre porque os conceitos de sujeito e objeto dados pela gramática foram tomados de empréstimo da filosofia: para os gregos, há uma realidade objetiva (em si, independente de qualquer julgamento) e uma subjetiva (tal qual vista por nós).

Nesse sentido, o objeto é a realidade natural, inerte, impotente e inconsciente, e o sujeito é o ser humano, único capaz de tomar consciência da realidade ao redor e de agir sobre ela. Daí a ideia de que sujeito é quem pratica ações e objeto, quem as sofre.
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Em resumo, aquelas funções que aprendemos nas enfadonhas aulas de análise sintática são de natureza meramente convencional. É por isso que a fala popular simplifica as regências, elimina preposições desnecessárias e diz "assistir televisão", "atender o telefone", "responder a pergunta", "visar um objetivo", e assim por diante. E também põe na voz passiva verbos que, segundo a gramática normativa, são transitivos indiretos: "O programa foi assistido por milhares de pessoas", "Todas as perguntas foram respondidas", "O objetivo visado por nós é.".

 

(Aldo Bizzocchi é doutor em linguística pela USP e autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume) e Anatomia da Cultura (Palas Athena) www.aldobizzocchi.com.br)


Dentre as questões linguísticas, o texto também apresenta discussão sobre a linguagem culta e a linguagem informal.

Qual das alternativas expressa essas linguagens, respectivamente?



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