Enunciados de questões e informações de concursos
SOS Gramatical
Uma esquina educativa
Às dez e meia da manhã, o telefone tocou mais uma vez. Do outro lado da linha, uma dúvida – a décima segunda do dia. “Você quer saber como se escreve insossa?”, repetiu a plantonista. Sim, era o que a pessoa queria. Considerando o nível de dificuldade das perguntas que Illiana da Costa Forte enfrenta diariamente, essa poderia entrar na categoria bico. Ainda assim, tal como canja de galinha e água-benta, um Aurélio ou um Houaiss nunca é demais. Depois de uma espiada no computador, ela responde: “A palavra é com s e ss.”
Illiana é a coordenadora do Plantão Gramatical de Fortaleza, um tira-dúvidas linguístico mantido há quase trinta anos pela prefeitura da cidade. De segunda a sexta, das 8 às 18 horas, ela e um grupo de oito professores – seis de português, um de inglês e um de espanhol – se revezam em dois turnos para destrinchar, por exemplo, as 27 (dizem alguns) funções gramaticais da palavra que (conjunção, pronome, preposição, advérbio etc.). As perguntas são feitas por telefone e fax ou “presencialmente” (como dizem os modernos). É a modalidade preferida dos moradores do bairro Damas, onde fica o escritório, porque um pulo no plantão economiza o telefonema
Além de lançar luz sobre os mistérios dos três idiomas, os mestres fornecem a origem e o significado de nomes de pessoa. Circula pelo escritório o polpudo Dicionário de Nomes de Bebês, com 8 mil verbetes. “Quer saber o seu?”, Illiana pergunta ao usuário Henrique. “Está aqui: ‘príncipe encantador e poderoso.’” Há que [prep. acidental] duvidar um tanto dos rigores do dicionário, o que não impediu Henrique de ganhar o dia. De posse da informação, certamente apareceu no emprego com a altivez de um cavaleiro medieval.
Variando dos 30 aos 50 anos de idade, todos os plantonistas têm curso superior e quase todos lecionam nas universidades públicas de Fortaleza (são duas). Com o cargo de oráculo gramatical, reforçam o orçamento em 953 reais mensais.
Entre uma pergunta e outra sobre ortografia, sintaxe, morfologia ou pontuação, são por vezes instados a dirimir dúvidas que [pron. rel. com função de sujeito] extrapolam os precisos limites da ciência gramatical. Uma vez, preparada para atender o telefone e fazer, digamos, alguma rápida análise sintática – por exemplo, da frase “Vão-se os anéis, ficam os dedos” –, Illiana foi surpreendida: “Quem era o ator que [pron. rel. com função de sujeito] fazia O Bem- Amado?” Meio no reflexo, ela respondeu na bucha: “Paulo Gracindo.” Entusiasmada, a consulente prosseguiu: “Já que a senhora foi tão simpática comigo, não teria aí o telefone do padre Marcelo Rossi?” Illiana não tinha.
(Adaptado de SOS Gramatical. Piauí, Rio de Janeiro, ano 3, n. 30, p. 12-13, mar. 2009)
Assinale a alternativa em que o vocábulo à direita é SINÔNIMO do termo transcrito do texto.