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Existe uma estreita relação entre nutrição, saúde e educação, de um lado, e capacidade de trabalho e iniciativa de outro. A incompetência econômica do indivíduo resulta em privação material: sua demanda por bens não corresponde a uma demanda recíproca, no mercado, por aquilo que ele é capaz de oferecer. Ao mesmo tempo, a pobreza de uma geração se torna o berço da incompetência da geração seguinte: o ambiente de privação material e ignorância em que nasce (e se forma) o indivíduo impede que ele desenvolva todas as qualidades físicas, morais e intelectuais das quais dependerá sua competência na vida prática e sua sobrevivência no mercado. Fecha-se assim o elo entre pobreza e improficiência.
Entre os economistas do século XIX, foi Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da formação de capital humano − do investimento na qualidade da força de trabalho − para um programa de reforma social eficaz, voltado para a erradicação da pobreza e a promoção da riqueza e do desenvolvimento sociais. Na Inglaterra oitocentista de Marshall, existia um vasto contingente de indivíduos trabalhando com um nível baixíssimo de produtividade, semiocupados ou até incapacitados de exercer qualquer tipo de atividade no mercado que lhes garantisse o mínimo necessário para um padrão de vida tolerável.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada e pelo menos parcialmente provida pelo Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação seria uma resposta mais eficaz do que a Poor Law (sistema de assistência social aos pobres) no combate ao pauperismo.
O ponto crucial, contudo, é que os economistas clássicos ainda tendiam a abordar a questão da educação mais sob o ângulo do bem-estar social, da mudança de atitudes e valores que acarretava, do que sob o ângulo do capital humano, isto é, como parte do esforço de investimento e formação de capital produtivo de uma nação.
Foi apenas com os “Princípios de economia” de Marshall que os economistas passaram a tratar a educação, além da saúde, alimentação etc. − o investimento em seres humanos em suma −, não mais como uma questão simplesmente humanitária (embora, é claro, também o seja), mas como parte do esforço de acumulação de capital: como investimento na capacidade produtiva da população, entendida como resultante de sua saúde e educação básica, bem como de seu grau de competência profissional.
O núcleo do argumento marshalliano é a noção de que o verdadeiro gargalo com que se defrontam as economias menos desenvolvidas não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital humano. É a falta de capacitação da comunidade para integrar-se de forma dinâmica à economia mundial que compromete o esforço de crescimento numa economia atrasada.
Mas o que é, afinal, o capital humano? O capital humano representa a capacitação do indivíduo para o trabalho qualificado. Ele é constituído não somente pelo resultado do investimento da família e da sociedade na competência produtiva das pessoas, mas também por elementos de natureza ética como, por exemplo, a capacidade dos indivíduos de agir com base nos interesses comuns. Com isso, aumenta o poder de ganho dos indivíduos no mercado e eles aprendem que é do seu próprio interesse respeitar regras gerais de conduta das quais todos os participantes da sociedade se beneficiam, embora para isso precisem restringir alguns de seus interesses pessoais mais imediatos.
É importante frisar que Marshall sustentou um argumento de caráter econômico quando defendeu a distribuição menos desigual da riqueza e da renda, de modo a promover a formação de capital humano. Seu argumento chama a atenção para os ganhos obtidos a partir da melhora na educação da população: “nenhuma mudança favoreceria tanto um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma melhoria das nossas escolas [...], desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de estudo, o que permitirá ao filho do trabalhador mais simples a obtenção da melhor educação teórica e prática que nossa época é capaz de oferecer a ele.”
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo.
O elogio do vira-lata e outros ensaios. Companhia das Letras, 2018, edição digital.)
... embora para isso precisem restringir alguns de seus interesses pessoais mais imediatos.
Com um sentido adequado ao original, uma redação correta para o segmento acima, transformando-o em um período independente, encontra-se em: