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Antropoceno: a era do colapso ambiental
O Homo sapiens surgiu e se espalhou pelo mundo no período geológico do Pleistoceno, mas foi no Holoceno que a civilização floresceu e a espécie humana se tornou uma força onipresente no território global. A população mundial era de cerca de 5 milhões de habitantes no início do período Holoceno, há cerca de 12 mil anos. A estabilidade climática do Holoceno propiciou o desenvolvimento econômico e social, e o ser humano expandiu as atividades agrícolas e a domesticação dos animais, construiu cidades e montou uma máquina de produção e consumo de bens e serviços jamais vista nos 4,5 bilhões de anos da Terra.
O crescimento da população e da produção foi de tal ordem que o Prêmio Nobel de Química (1995) Paul Crutzen, avaliando o grau do impacto destruidor das atividades humanas sobre a natureza, afirmou que o mundo entrou em uma nova era geológica, a do Antropoceno, que significa época da dominação humana. Representa um novo período da história do planeta, em que o ser humano se tornou a força impulsionadora da degradação ambiental e o vetor de ações que são catalisadoras de uma provável catástrofe ecológica.
A Terra entrou em uma espiral da morte. A sexta extinção em massa das espécies e a crise climática são as ameaças mais urgentes do nosso tempo. E o prazo para reverter essa espiral da morte está se esgotando. Será necessária uma ação radical para salvar a vida no planeta. O progresso demoeconômico tem gerado externalidades negativas para o meio ambiente.
Em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Esse crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. Mas todo o crescimento e enriquecimento humano ocorreu às custas do encolhimento e empobrecimento do meio ambiente. Portanto, o avanço do progresso humano tem seus limites no processo de empobrecimento do meio ambiente.
A ideia utópica de uma harmonia entre o crescimento da população e o desenvolvimento está se transformando em uma distopia, pois o desenvolvimento sustentável virou um oximoro. Na história e na natureza, não é incomum a plenitude e a morte coincidirem no tempo. Assim, também não é despropositado supor que o Antropoceno – época da dominação antrópica – possa ser também o começo do fim da era humana.
ALVES, José Eustáquio Diniz. Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=node/1106.
[Adaptado]. Acesso em: 18 jan. 2023.
Texto 2
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Os grandes desconhecidos da ciência
Das espécies de répteis do planeta, 90% registram um máximo de dez pesquisas publicadas sobre elas. Esse é um dos achados de um estudo conduzido por pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal de Goiás (UFG) que buscou avaliar quais são as lacunas de conhecimento sobre esse grupo de animais. A pesquisa visa contribuir com a criação e incorporação de novos programas científicos e estratégias eficazes de conservação e acaba de ser divulgada no periódico Ecography, uma das publicações científicas mais relevantes do mundo na categoria de Conservação da Biodiversidade.
Essa foi a primeira avaliação global dos esforços de pesquisa sobre répteis, que é o grupo de vertebrados mais diverso do mundo. Para chegar a essa conclusão, eles avaliaram quase 90 mil artigos (papers) sobre as mais de 10 mil espécies de répteis existentes publicados na base de dados científicos Scopus entre os anos 1960 e 2021. Os resultados da pesquisa apontam que não apenas faltam estudos suficientes sobre a maior parte das espécies de répteis, como também que quase 40% delas (4.027) sequer são tema de algum paper. Enquanto isso, as dez espécies de répteis mais investigadas – quatro tartarugas, quatro serpentes, um jacaré e um lagarto – foram objeto de 15% de todos os artigos científicos encontrados, ou um total de 13.449 publicações. Outros números indicam que as dez famílias mais pesquisadas – de um total de 93 famílias – concentram quase 70% de toda a produção científica existente, enquanto as dez menos estudadas reúnem somente 36 publicações.
De forma geral, os autores concluíram que fatores biológicos e socioeconômicos são os principais influenciadores quanto à quantidade de estudos realizados, mas que geografia e status de conservação também desempenham papel importante.
“A ideia era entender a motivação para o fato de certas espécies serem mais pesquisadas do que outras”, explica o professor visitante da Unicamp e biólogo Mario Moura, que é um dos autores do artigo junto com Jhonny Guedes e José Alexandre Diniz-Filho, ambos da UFG. “Porque os ecossistemas da Terra são altamente dependentes da saúde das espécies que os constituem, eles precisam estar em harmonia para garantir o funcionamento de vários serviços ecossistêmicos como a renovação do ar e a ciclagem de nutrientes. Para que a gente consiga conservar adequadamente a biodiversidade do planeta, é preciso conhecê-la”, alega o pesquisador.
PONTES, Paula Penedo. Os grandes desconhecidos da ciência. Jornal da Unicamp, 10 de janeiro de 2023. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2023/01/10/os-grandes-desconhecidos-da-ciencia. [Adaptado]. Acesso em: 15 jan. 2023.
Texto 3
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“A Terra pode nos deixar para trás e seguir o seu caminho”
Entrevista com Ailton Krenak
Que humanidade somos hoje?
Somos uma humanidade complexa e diversa. Ela tem aquelas qualidades que nós gostaríamos às vezes que fossem presentes ao nosso redor: a complexidade e a pluralidade. Mas essa humanidade, exatamente por ter uma condição plural, não constitui uma comunidade. Poderia dizer que hoje estamos perplexos, porque nós não conseguimos ter uma unidade de propósito e estamos passando por crises sucessivas. Crise ambiental, climática, econômica. É também uma crise de paradigma.
Em A vida não é útil, tu destacas o fato de o coronavírus adoecer apenas seres humanos. O que isso pode nos dizer?
A Terra seguir seu caminho é uma possibilidade de desafiar a centralidade que o ser humano se pretende. Faz com o que essa centralidade seja posta em questão. É a ideia do Antropoceno [teoria de que as ações humanas mudaram profundamente o funcionamento do planeta e de que isso constituiria uma nova era geológica]. Então, se o pensamento dos seres humanos acerca da vida aqui no planeta ficou tão atomizado ao ponto de nós ameaçarmos as outras existências, a Terra pode nos deixar para trás e seguir o seu caminho. Gaia é esse organismo vivo, inteligente, e que não vai ficar subordinado a uma lógica antropocêntrica. Ela dispensa a gente. Essa compreensão parece uma ideia mágica, romântica, mas muitos cientistas consideram a Teoria de Gaia [a ideia de que a Terra é um organismo vivo] ser real. Inclusive, os eventos por que estamos passando agora são indicativos de que esse organismo está reagindo. Estamos experienciando a febre do planeta.
O organismo de Gaia está com febre porque nós, os humanos, somos os únicos que temos a capacidade de incidir sobre esse organismo de maneira desordenada. E estamos ameaçando outras vidas, outras existências, causando uma febre neste organismo. É muito didático. Não é uma teoria complicada.
Tu contas que a gente “respira e sonha com a Terra”. Com o que sonha a Terra?
O sonho da Terra é uma metamorfose. O que é pedra vira borboleta, o que é pau vira vento, o que é vapor vira chuva, as nuvens despencam em tempestade. Toda essa fantástica movimentação da vida é o sonho da Terra. É a transformação, a metamorfose. Tem um autor que começou a ser divulgado no Brasil agora que se chama Emanuele Coccia. Ele é autor do livro Metamorfose. É um livro que estou considerando uma leitura muito bacana porque ele consegue nos dar um roteiro para entender esse maravilhoso organismo.
O que Metamorfose traz é uma leitura sobre o darwinismo, sobre a evolução, contrária à ideia comum de que o mundo foi criado – a ideia criacionista – e de que os humanos receberam o condomínio do mundo para o predar. Essa é a narrativa ocidental. Mas tem narrativas de outros povos que podem sugerir que nós tivemos diferentes evoluções e origens, que viemos justamente do sonho da Terra. Esse sonho vivo da Terra.
KRENAK, Ailton. Entrevista feita por Anna Ortega. Jornal da Universidade, 12 de novembro de 2020. Disponível em: www.ufrgs.br/ jornal/ailton-krenak-a-terra-pode-nos-deixar-para-tras-e-seguir-o-seu-caminho. Acesso em: 15 jan. 2023. [Adaptado].
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Empresas podem ajudar a escalar a agricultura regenerativa
No início de novembro, líderes mundiais foram ao Egito para a COP27, a cúpula climática anual da ONU (Organização das Nações Unidas). A COP (Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) é uma oportunidade anual de reunir as principais partes interessadas na luta contra as mudanças climáticas e alinhar as prioridades para o próximo ano. Um dos temas em evidência da COP27, motivo de muitas discussões, foi a expansão da agricultura regenerativa.
Um relatório de 2014 mostra que 24% das emissões globais vêm do uso da terra, a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa depois da energia. Então, se vamos frear a mudança climática e manter o mundo dentro de 1,5 °C, devemos evoluir a maneira como cultivamos. A agricultura regenerativa faz isso, concentrando-se na saúde e na fertilidade do solo, sequestrando carbono, melhorando a saúde das reservas hidrográficas, aumentando a biodiversidade e melhorando a qualidade de vida dos produtores que cultivam nossos alimentos.
Em outras palavras, a agricultura regenerativa não apenas reduz as emissões, mas também pode acelerar a transição para um sistema alimentar mais saudável, sustentável e equitativo. E, no entanto, a agricultura regenerativa tem sido amplamente negligenciada quando se trata de negociações climáticas internacionais. Acredito que está na hora de isso mudar. É hora de enfrentar os desafios e explorar soluções que resultem na adoção generalizada dessas práticas potencialmente salvadoras do planeta.
Dito isso, a transição para métodos regenerativos levará tempo. Há muito trabalho a fazer para quebrar as barreiras que impedem a expansão dessas práticas. Em última análise, para que a agricultura regenerativa crie raízes, os produtores precisam de três coisas: apoio econômico, apoio social e cultural e apoio agronômico.
No final das contas, temos conhecimento, recursos e ferramentas. Está na hora de a agricultura regenerativa ocupar o centro do debate sobre o clima. Fazer deste momento um momento de ação, em que há um comprometimento coletivo em adotar essa alavanca crítica para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, fortalecer nosso sistema alimentar global e elevar nossas comunidades. A hora de agir é agora.
AZEVEDO, Roberto. Forbes Agro. 25 de novembro de 2022. Disponível em: https://forbes.com.br/forbesagro/2022/11/como- empresas-podem-ajudar-a-escalar-a-agropecuaria-regenerativa. [Adaptado]. Acesso em: 18 jan. 2023.
Com base nos textos 1, 2, 3 e 4, considere as seguintes afirmativas e assinale a alternativa correta.
I. Há uma relação temática entre os quatro textos em torno da questão ambiental e do papel dos seres humanos na sua proteção.
II. As definições “época da dominação humana” (texto 1) e “teoria de que as ações humanas mudaram profundamente o funcionamento do planeta e de que isso constituiria uma nova era geológica” (texto 3) dizem respeito ao Antropoceno.
III. Os seguintes termos estão em consonância com os textos 1, 2, 3 e 4, respectivamente: “crescimento da população”, “conservação da biodiversidade”, “movimentação da vida” e “sistema alimentar sustentável”.
IV. Os textos pertencem a gêneros textuais diferentes: enquanto os dois primeiros são científicos, os dois últimos enfocam exemplos cotidianos e do senso comum.
V. O texto 2 se distancia tematicamente dos demais textos, pois desconsidera o debate sobre a renovação do ar.