Os grandes desconhecidos da ciência
Das espécies de répteis do planeta, 90% registram um máximo de dez pesquisas publicadas sobre elas. Esse é um dos achados de um estudo conduzido por pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal de Goiás (UFG) que buscou avaliar quais são as lacunas de conhecimento sobre esse grupo de animais. A pesquisa visa contribuir com a criação e incorporação de novos programas científicos e estratégias eficazes de conservação e acaba de ser divulgada no periódico Ecography, uma das publicações científicas mais relevantes do mundo na categoria de Conservação da Biodiversidade.
Essa foi a primeira avaliação global dos esforços de pesquisa sobre répteis, que é o grupo de vertebrados mais diverso do mundo. Para chegar a essa conclusão, eles avaliaram quase 90 mil artigos (papers) sobre as mais de 10 mil espécies de répteis existentes publicados na base de dados científicos Scopus entre os anos 1960 e 2021. Os resultados da pesquisa apontam que não apenas faltam estudos suficientes sobre a maior parte das espécies de répteis, como também que quase 40% delas (4.027) sequer são tema de algum paper. Enquanto isso, as dez espécies de répteis mais investigadas – quatro tartarugas, quatro serpentes, um jacaré e um lagarto – foram objeto de 15% de todos os artigos científicos encontrados, ou um total de 13.449 publicações. Outros números indicam que as dez famílias mais pesquisadas – de um total de 93 famílias – concentram quase 70% de toda a produção científica existente, enquanto as dez menos estudadas reúnem somente 36 publicações.
De forma geral, os autores concluíram que fatores biológicos e socioeconômicos são os principais influenciadores quanto à quantidade de estudos realizados, mas que geografia e status de conservação também desempenham papel importante.
“A ideia era entender a motivação para o fato de certas espécies serem mais pesquisadas do que outras”, explica o professor visitante da Unicamp e biólogo Mario Moura, que é um dos autores do artigo junto com Jhonny Guedes e José Alexandre Diniz-Filho, ambos da UFG. “Porque os ecossistemas da Terra são altamente dependentes da saúde das espécies que os constituem, eles precisam estar em harmonia para garantir o funcionamento de vários serviços ecossistêmicos como a renovação do ar e a ciclagem de nutrientes. Para que a gente consiga conservar adequadamente a biodiversidade do planeta, é preciso conhecê-la”, alega o pesquisador.
PONTES, Paula Penedo. Os grandes desconhecidos da ciência. Jornal da Unicamp, 10 de janeiro de 2023. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2023/01/10/os-grandes-desconhecidos-da-ciencia. [Adaptado]. Acesso em: 15 jan. 2023.