A medida do PIB na prática não é tão próxima como gostaríamos de sua contrapartida teórica. Ainda assim, creio – e é esta a mensagem que quero passar – que se move razoavelmente alinhada com a atividade econômica real e, com certo exagero, também com o bem-estar. Em particular, o aumento do PIB se traduz em movimento na mesma direção do emprego total e vice-versa.
Assim, por exemplo, entre 2014 e 2016, enquanto o PIB brasileiro caiu pouco mais de 6,5%, o emprego se reduziu em 1,5% (cerca de 1,5 milhão de postos de trabalho); já o aumento do PIB de 2016 a 2018, ainda que modesto (2,2%), foi acompanhado de elevação de 1,5% do emprego, que retornou aos níveis de 2014.
Não é por outro motivo que a taxa de desemprego se move na direção oposta ao crescimento do produto.
E não é apenas isso. Níveis mais elevados do PIB estão tipicamente associados a melhores condições de vida. Países mais ricos (no quesito PIB per capita, ou seja, já devidamente considerado o tamanho de sua população) apresentam menor mortalidade infantil, maior expectativa de vida, melhores serviços de saúde, oferta mais ampla de bens culturais (museus e bibliotecas, por exemplo), dentre vários aspectos da vida que geralmente valorizamos.
Esse é o principal motivo ____ seguimos o PIB também como medida de bem-estar, mas há problemas.
Atividades que aparecem somando ao PIB podem produzir efeitos negativos sobre o bem-estar, e não é difícil imaginar ____. Indústrias altamente poluidoras afetam a saúde da população; shopping centers em determinadas vizinhanças pioram o trânsito da região; represas geram impactos ambientais potencialmente ruins em termos de biodiversidade; e a lista poderia ser ____ sem maiores dificuldades.
É bom que se diga que não há grande controvérsia entre economistas acerca das vantagens e também das limitações do PIB. Todavia, como há poucas alternativas, ele ainda é utilizado como a principal medida não só de atividade, mas também – com certo salto de fé – de bem-estar.
A alternativa mais comum ao PIB é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que busca incorporar à dimensão econômica outros aspectos da vida humana. Desde 2010, o IDH mede (além do PIB per capita) a longevidade dos habitantes de determinada economia (tipicamente um país, embora haja medidas de IDH para entidades subnacionais), capturada pela expectativa de vida ao nascer, e o acesso ao conhecimento, medido por anos médios de estudo e anos esperados de escolaridade.
Na prática, porém, o efeito do IDH é remover os países produtores de petróleo do Oriente Médio (muito ricos, mas com má qualidade de vida para a população) do topo dos rankings. Com efeito, 7 dentre os 10 países com melhor IDH estão também na lista dos 10 maiores PIBs per capita, se excluirmos da segunda lista os produtores de petróleo. E se tratássemos dos 20 maiores IDHs e 20 maiores PIBs per capita, a sobreposição ficaria ainda maior.
O motivo não é complicado: à parte os países produtores de petróleo do Oriente Médio, tipicamente despóticos, os países mais ricos também são os que apresentam melhor qualidade de vida. O ranking pode não ser idêntico, mas a própria construção do IDH faz ____ a composição seja bastante familiar.
Adaptado de: SCHWARTSMAN, A. Economia no cotidiano:
decifra-me ou te devoro. São Paulo: Contexto, 2020.