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Os livros da Nova Era
Que a informática dominará o mercado editorial, ninguém discute. Outro dia, conversando com um editor, fui devidamente catequisada: o livro como o conhecemos hoje, feito de papel, está condenado. Abram alas para o livro digital!
Diante desta profecia desanimadora, recorri aos clichês de praxe: como levaremos o livro para a praia, para a cama, para a rede? Elementar, minha cara, respondeu o editor. O computador não será o trambolho que conhecemos hoje.
Seja feita a vontade de Bill Gates*. Mas, no que me diz respeito, não vou deixar meus livros virarem peça de museu. O livro não é um produto descartável: usou, jogou fora. Existe uma sensível diferença entre gostar de ler e gostar de livros. Muitos dos que se incluem no primeiro grupo leem apenas revistas, manuais de instruções, bulas de remédio, tudo em nome da informação.
E há os fanáticos. Aqueles que têm com o livro uma relação íntima, quase religiosa. Eu, por exemplo, gosto do cheiro dos livros. Gosto de interromper a leitura num trecho especialmente bonito e encostá-lo contra o peito, fechado, enquanto penso no que foi lido. Depois reabro e continuo a viagem. Gosto de sublinhar as passagens mais tocantes. Gosto do barulho das páginas sendo folheadas. Gosto das marcas de velhice que o livro vai ganhando: orelhas retorcidas, a lombada descascando, o volume ficando meio ondulado com o manuseio.
Reconheço que esta minha resistência à tecnologia é antiga e inútil. Até hoje morro de saudades das charmosas máquinas de escrever manuais, o chão lotado de papéis amassados e um cigarro abandonado aceso no cinzeiro. Acho a cena romântica à beça, eu que nem fumo.
Não nego que viver sem computador, hoje, é o mesmo que viver sem geladeira. Mas não consigo imaginar o livro deixando de ser um objeto para ser um equipamento. O livro podendo ser apagado. Todos os volumes de uma biblioteca cabendo numa única gaveta. Como serão as sessões de autógrafos?
Que venham as Bienais e Feiras do Livro cibernéticas, mas não se apressem por minha causa. Folhear um livro com o mouse não haverá de ser o meu hobby preferido.
(Martha Medeiros. Topless. L&PM, 2002. Excerto adaptado)
* Bill Gates: fundador da Microsoft.