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Leia com atenção o texto para responder à questão.

 

Morte e vida severina

 

–Bem me diziam que a terra
se faz mais branda e macia
quanto mais do litoral
a viagem se aproxima.
Agora afinal cheguei
nessa terra que diziam.
Como ela é uma terra doce
para os pés e para a vista.
Os rios que correm aqui
têm a água vitalícia.
Cacimbas por todo lado;
cavando o chão a água mina.
Vejo agora que é verdade
o que pensei ser mentira.
Quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina?
Não tenho medo da terra
(cavei pedra toda a vida)
e para quem lutou a braço
contra a piçarra da Caatinga
será fácil amansar
esta aqui, tão feminina.

 

Mas não avisto ninguém:
só folhas de cana fina:
somente ali à distânciap
aquele bueiro de usina;
somente naquela várzea
um bangüê velho em ruína.
Por onde andará a gente
que tantas canas cultiva?
Feriando: que nessa terra
tão fácil, tão doce e rica,
não é preciso trabalhar
todas as horas do dia,
os dias todos do mês,
os meses todos da vida.
Decerto a gente daqui
jamais envelhece aos trinta
nem sabe a morte em vida,
vida em morte, severina;
e aquele cemitério ali,
branco na verde colina,
raramente funciona
e poucas covas aninha


João Cabral de Melo Neto

 

“[...] trabalhar todas as horas do dia” traz a ideia de



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