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A máquina de fotografar mudou a história do olhar humano. Na sequência, o cinema nos ensinou a ver o mundo de um modo diferente. A televisão concentrou nosso olhar dentro da pequena tela doméstica, uma espécie de prisão para os espíritos mais inquietos, um conforto visual para outros menos preocupados. O computador ajudou a concentrar nossos corpos diante de uma tela com possibilidades infinitas, ou aparentemente infinitas. Os tablets hipnotizaram muita gente com a novidade do touchpower. Finalmente, os telefones celulares concentraram todas essas possibilidades, facilitando a relação tanto com o mundo visual quanto com o virtual, e, também por isso, passaram a valer como um órgão do corpo humano.

 

Isso é provado empiricamente no momento em que alguém perde um celular. É como se esse alguém perdesse o órgão físico que lhe permite conexão com o mundo. Se alguém ainda especula sobre o “sexto sentido”, o celular é o mais forte candidato a ocupar o lugar desse saber além dos sentidos corporais clássicos.

 

Os aparatos técnicos controlam nossa relação com o mundo visual há muito tempo. Desde que o virtual surgiu, esses aparelhos que conjugam todas essas possibilidades controlam o todo de nossas percepções. Até aí nada demais.

 

Já sabemos disso. Mas, se sabemos, por que não mudamos aquilo que já conhecemos e aprendemos a criticar tão bem? Essa não é uma pergunta retórica, feita apenas por fazer. É uma pergunta que, levada a sério, nos confronta com nossos próprios limites. Ora, não mudamos nossa relação com esses objetos porque eles criam hábitos. E não há nada mais forte em nossas vidas do que nossos hábitos. Os hábitos nos dão segurança e senso de pertencimento, o conforto do que é conhecido para nós.

 

O que chamamos de consumismo é, na verdade, um hábito. Não abandonamos os mais diversos produtos que nos fazem mal ou que fazem mal à natureza ou a alguém, não deixamos de lado o cigarro, as comidas industrializadas, o carro ou o sedentarismo porque eles têm a força do hábito. Os hábitos nos dão prazer porque poupam nosso empenho e esforço em uma sociedade que já exige muito de nossos corpos. E quando entram em cena os esforços mentais, tudo o que queremos é ser poupados.

 

Somos devotos do deus da inércia. O celular vem a ser uma parte do ritual desse culto, pois nos poupa empenho e esforço. E nos dá a sensação de potencialidades abertas. Ele é o melhor exemplo de pequena potencialidade literalmente ao alcance da mão que nos livra de muitos desempenhos que seriam sofríveis se tivéssemos que nos esforçar por eles a todo momento. Nós nos regozijamos com a superficialidade porque, de fato, interpretamos que ela é o que tem que ser. Somos signatários dessa vida instantânea, imediata, sem densidade. Estamos habituados à superfície porque não conhecemos nada melhor do que ela.

 

Marcia Tiburi. Nós e os aparelhos: sobre hábitos e prazeres na era da automação

humana. Internet: <https://revistacult.uol.com.br> (com adaptações).

 

O emprego de vírgulas no trecho “instantânea, imediata, sem densidade” tem a finalidade de


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