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Leia atentamente o texto a seguir para responder à questão.

 

A dualidade fundamental da linguagem que nasce da oposição saussureana língua/fala foi (...) duramente contestada pelo soviético Bakhtin, já no final da década de 20. A oposição que Bakhtin (1929) faz a Saussure é radical, se levarmos em conta que a linguagem, para esse filósofo, não se divide em duas instâncias, língua e fala, ou língua e discurso, ou ainda competência e performance. A enunciação, “a verdadeira substância da língua”, é, para Bakhtin, a síntese do processo da linguagem, o conceito-chave para se entender os processos linguísticos.

 

Assim como Saussure, Bakhtin parte do princípio de que a língua é um fato social cuja existência funda-se nas necessidades de comunicação. No entanto, afasta-se de Saussure ao ver a língua como algo concreto, fruto da manifestação interindividual entre os falantes, valorizando, assim, a manifestação concreta da língua e não o sistema abstrato de formas. Essa manifestação não é a fala de Saussure, porque é eminentemente social.

 

Para Bakhtin, o que de fato existe é o processo linguístico, sendo a enunciação o motor da língua: “a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes”. A língua constitui um processo de evolução ininterrupto, ou seja, um processo de criação contínua que se realiza pela interação verbal social dos locutores. Em outras palavras, a língua é uma atividade, um processo criativo, que se materializa pelas enunciações. A realidade essencial da linguagem é seu caráter dialógico.

 

Sendo a realidade essencial da linguagem seu caráter dialógico, a categoria básica da concepção de linguagem em Bakhtin é a interação. Toda enunciação é um diálogo; faz parte de um processo de comunicação ininterrupto. Não há enunciado isolado; todo enunciado pressupõe aqueles que o antecederam e todos os que o sucederão. Um enunciado é apenas um elo de uma cadeia. Toda palavra, nesse sentido, já é uma contrapalavra, uma resposta.

 

O dialogismo, que é, para Bakhtin, a condição de existência do discurso, é duplo: ao mesmo tempo que é lei do discurso constituir-se sempre de “já ditos” de outros discursos (as palavras são sempre, inevitavelmente, “palavras de outrem”), o discurso não existe independentemente daquele a quem é endereçado, o que implica que a visão do destinatário é incorporada e determinante no processo de produção do discurso.

 

O conceito de interação é constitutivo dos sujeitos e da própria linguagem. A palavra é ideológica, ou seja, a enunciação é ideológica. É no fluxo da interação verbal que a palavra se concretiza como signo ideológico, que se transforma e ganha diferentes significados, de acordo com o contexto em que ela surge. Cada época e cada grupo social têm seu repertório de formas de discurso que funciona como um espelho que reflete e retrata o cotidiano. A palavra é a revelação de um espaço no qual os valores fundamentais de uma dada sociedade se explicitam e se confrontam.

 

Os estudos de Bakhtin no ocidente, principalmente a partir da década de 70, vão influenciar as pesquisas atuais voltadas para a problemática da enunciação. Com base nessas pesquisas, não é mais possível dizer que a enunciação é um ato individual de utilização da língua por um locutor. Ela é eminentemente social.

 

CARDOSO, Sílvia. Discurso e ensino. Belo Horizonte, Autêntica, 2003. p. 24-25.

 

De acordo com o texto, a oposição de Bakhtin às ideias de Saussure baseia-se



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