Reconhecer o status de mulheres brancas e homens negros como oscilante nos possibilita enxergar as especificidades desses grupos e romper com a invisibilidade da realidade das mulheres negras. Por exemplo, ainda é muito comum a gente ouvir a seguinte afirmação: “mulheres ganham 30% a menos do que homens brancos no Brasil”, quando a discussão é desigualdade salarial. Essa afirmação está incorreta? Logicamente não; mas do ponto de vista ético, sim. Explico: mulheres brancas ganham 30% a menos do que homens brancos no Brasil. Homens negros ganham menos do que mulheres brancas, e mulheres negras ganham menos do que todos. Segundo pesquisa desenvolvida pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 39,6% das mulheres negras estão inseridas em relações precárias de trabalho, seguidas pelos homens negros (31,6%), por mulheres brancas (26,9%) e por homens brancos (20,6%). Ainda segundo a pesquisa, mulheres negras representam o maior contingente de pessoas desempregadas e no trabalho doméstico. Quando muitas vezes é apresentada a importância de se pensarem políticas públicas para as mulheres, comumente se ouve que as políticas devem ser para todos. Mas quem são esse “todos”, ou
quantos cabem nesse “todos”?
Djamila Ribeiro. O que é lugar de fala?
Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017 (com adaptações).