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Texto para a questão
A imaginação foi sempre o húmus do jardim de Clio. No caso da África, antes do século XVII, é particularmente válido o definir-se a história como o adivinhar do passado.
Dele, abstraídas a Etiópia, a franja sudanesa infiltrada pelo Islão e as cidades-estado do Índico, áreas que conheceram a escrita e nos deixaram alguns poucos documentos — poucos, muitas vezes tardios e também contaminados por lendas —, sabemos apenas o que nos devolve uma arqueologia que mal arranhou as imensas extensões africanas, o que anotaram, a partir do século IX, viajantes e eruditos árabes e, mais tarde, os portugueses e outros europeus, bem como o que nos chegou das tradições e das crônicas orais dos povos negros.
Se, nos textos em que se profetiza às avessas, ainda que fundados sobre o registro, o depoimento e a memória escrita, o rigor de quem os compõe não afasta de todo o mito e deixa que ele freqüente a narrativa e nela se imiscua, é porque é também importante contar, ao lado do que se julga ter realmente acontecido, as imaginações que se fizeram fatos e os fatos que se vestiram de imaginário, porque se incorporaram ao que um povo tem por origem e rastro, e, por isso, o marcam, definem e distinguem. Oraniã, Xangô, Tsoede, Cibinda Ilunga aparecem como personagens neste livro de história porque pertencem iniludivelmente à realidade dos iorubas, dos nupês, e dos lundas e quiocos.
Eles estão aqui como Enéias e sua viagem de Tróia ao Lácio, e como Réia Sílvia, a loba, Rômulo e Remo, nos compêndios sobre História romana, cujos autores os sabem mitos, mas não ignoram que fecundaram um destino.
Alberto da Costa e Silva. A enxada e a lança: A África antes dos portugueses. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p. 3-4.
Considerando os sentidos do texto acima, julgue (C ou E) o seguinte item.
Na linha 10, “se imiscua”, forma verbal no modo subjuntivo, tem o sentido de se intrometa.