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Texto para a questão
Há algo que une técnicos e humanistas. Ambos se crêem marcados por um fator distintivo, inerente a seus cérebros: o dom da inteligência, que os apartaria do trabalhador manual ou mecânico. Gramsci percebe nessa crença um ranço ideológico da divisão do trabalho:
“Em qualquer trabalho físico, até no mais mecânico e degradado, existe um mínimo de qualificação técnica, um mínimo de atividade intelectual criadora.
Todos os homens são intelectuais, pode-se dizer, mas nem todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais. Não se pode separar o Homo faber do Homo sapiens.”
O que distingue, portanto, a figura pública do homem da palavra é a rede peculiar de funções que os intelectuais costumam desempenhar no complexo das relações sociais.
À medida que o técnico se quer cada vez mais técnico, restringindo-se a mero órgão do sistema, e à medida que o humanista é deixado avulso do contexto, um e outro se irão fechando em suas pseudototalidades. O seu conhecimento político decairá. E o sistema, contentando-se com alguns profissionais mais à mão, alijará dos centros de decisão a maior parte dos intelectuais.
Um Gramsci puramente historicista talvez não pudesse dizer mais nada. Os fatos têm a sua razão, os intelectuais são o que são, e ponto final. Mas Gramsci foi um pensador revolucionário. Por isso, via uma possibilidade de projeto no intelectual moderno, que sucederia, nesse caso, o apóstolo e o reformador de outrora.
Alfredo Bosi. Céu, inferno: ensaios de crítica literária e ideológica. São Paulo: Ática, 1988, p. 242-3 (com adaptações).
Acerca de aspectos gramaticais e estilísticos do texto, julgue (C ou E) o item que se segue.
A inserção do fragmento que é imediatamente antes da expressão “inerente a seus cérebros”, apesar de atender a preceito gramatical, não resultaria em estrutura mais adequada estilisticamente que a original, se considerado o contexto do período.