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Um dos maiores méritos da sabedoria grega consistiu, justamente, em apresentar a moderação, ou bom senso, como a virtude suprema. No frontispício do templo de Apolo, em Delfos, uma das inscrições célebres era: nada em excesso. Aquele que exerce seu direito sem moderação acaba por perdê-lo. Do mesmo modo, a exigência excessiva por um mal sofrido transforma o exercício do direito em uma manifestação de vingança pura e simples. Nesse caso, a justiça muda de lado: ela se desloca para o lado do adversário. De acordo com a tradição da jurisprudentia romana, a advertência de Cícero manifesta exatamente esse sentido. Com frequência, disse ele, há ocasiões em que os atos que nos parecem os mais dignos de um homem justo transmudam-se no seu contrário. É o caso, por exemplo, do dever de respeitar a promessa feita, ou de cumprir o contratado. Se a prática do ato devido prejudica o devedor, sem nenhum proveito para o credor, o não cumprimento da palavra dada é plenamente justificado, pois a justiça nos obriga a dar sempre preferência ao bem sobre o mal.
Tudo isso, na verdade, decorre do fato de que a virtude da justiça tende sempre a alcançar certo estado de equilíbrio, longe de todo excesso. Não por outra razão a deusa Tétis foi representada, no imaginário grego, portando uma balança. A realização da justiça pressupõe, necessariamente, um constante sopeso de valores.
Fábio Konder Comparato. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 528-9 (com adaptações).
Considerando as ideias e os aspectos linguísticos do texto acima, julgue o item seguinte.
O termo “devido” está empregado, no texto, com o sentido de merecido, justo.