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Fundação Universidade de Brasília
Questão 1 de 1
Assunto: Conjunção

Na farmácia, presencio uma cena curiosa, mas não rara: balconista e cliente tentam, inutilmente, decifrar o nome de um medicamento na receita médica. Depois de várias hipóteses, acabam desistindo. O resignado senhor que porta a receita diz que vai telefonar ao seu médico e voltar mais tarde. “Letra de doutor”, suspira o balconista, com compreensível resignação. Letra de médico já se tornou sinônimo de hieróglifo.

 

Exercício de caligrafia saiu de moda, mas todos os alunos sabem que devem escrever de modo legível para conquistar a boa vontade dos professores. A letra dos médicos, portanto, é produto de uma evolução, de uma transformação. Mas que fatores estariam em jogo atrás delas?

 

Que eu saiba, o assunto ainda não foi objeto de uma tese de doutorado, mas podemos tentar algumas explicações. A primeira, mais óbvia (e mais ressentida), atribui os garranchos médicos a um mecanismo de poder. Doutor não precisa se fazer entender: são os outros, os seres humanos comuns, que têm de se familiarizar com a caligrafia médica.

 

Pode ser isso, mas acho que não é só isso. Há outros componentes: a urgência, por exemplo. Um doutor que atende dezenas de pacientes num movimentado ambulatório de hospital não pode mesmo caprichar na letra. Receita é uma coisa que ele deve fornecer — nenhum paciente se considerará acolhido se não levar uma receita. A receita satisfaz a voracidade de nossa cultura pelo remédio, e está envolta numa aura mística: é como se o doutor, por meio dela, acompanhasse o paciente. Mágica ou não, a receita é, muitas vezes, fornecida às pressas; daí a ilegibilidade.

 

Há um terceiro aspecto, mais obscuro e delicado. É a relação ambivalente do médico com aquilo que ele receita — a sua dúvida quanto à eficácia dos medicamentos. Os velhos doutores sabem que a luta contra uma doença não se apoia em certezas, mas sim em tentativas: na medicina, “sempre” e “nunca” são palavras proibidas. Daí a dúvida, daí a ansiedade da dúvida, da qual o doutor se livra pela escrita rápida. E pouco legível.

 

Moacyr Scliar. Letra de médico. In: A face oculta.

Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001, p. 23-5 (com adaptações).

 

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto anteriormente apresentado, julgue o item subsequente.

 

A expressão “para conquistar” foi empregada no texto com o mesmo sentido de a fim de que obtenham.



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