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Instrução: A questão refere-se ao texto abaixo.

 

Tenho medo da palavra "prático". Sempre me parece que o que é prático nos tira alguma coisa.

 

Acho que tudo começou no dia em que cheguei da escola e vi cortado o abacateiro do quintal da minha infância.

 

"É mais prático. Suja muito" – disse minha avó.

 

Eu não podia acreditar. Já não bastava terem cimentado o gramadinho onde eu fazia incríveis florestas, agora eu teria apenas aquele toco no meio do cimento para sentar. Francamente! Não gosto do que é prático. Prático me parece mínimo, sem detalhes. E Deus mora nos detalhes.

 

No mês passado, estive em temporada no centro do Rio. Fazia tempo que eu não andava por . Tentei achar um restaurante onde eu costumava ir almoçar com meu pai. Era uma dessas tabernas da Lapa, pequenas, baratas e com comida maravilhosa – vinda de uma senhora portuguesa escondida na cozinha.

 

Procurei loucamente pelas ruazinhas atrás da Cinelândia e quis gritar de alegria quando vi o mesmo letreiro ainda na porta.

 

O lugar era o mesmo, mas tinha sido azulejado, os quadros, retirados das paredes e a comida, agora, era cobrada a quilo. Uma fila para servir, outra para pesar, bandejas, talheres ensacados, sachezinhos de sal e nem sequer um caldeirão de caldo verde ou uma lasca de bacalhau que fosse no bufê.

 

Achei que tinha mudado o dono e apenas mantido o nome, mas, quando olhei pelo quadradinho que dava pra cozinha, lá estava, curiosamente, a mesma senhora, castigada pelo tempo e pelo que é mais prático e econômico.

 

Lembrei-me da minha avó. Também prática. Também portuguesa. Quando mandou cortar o abacateiro ainda fazia sua própria massa de pastel. Viva fosse, talvez já tivesse se rendido à massa pronta, comprada no supermercado. Teria meu perdão. Quem pode resistir ao que é mais prático e econômico num mundo que justifica tudo pelo custo e pela eficiência?

 

Mas será que preciso mesmo ficar sacudindo travesseirinhos de sal úmido pelas mesas? Não consigo dizer por que uma coisa tão banal me provoca tanto mal-estar, mas sei exatamente o conforto que me dá um guardanapo de pano furadinho num restaurante decadente que não se rendeu ao bufê a quilo.

 

A felicidade não é prática e econômica. A felicidade mora nos becos. Quer coisa mais prática e econômica do que uma sala iluminada por uma lâmpada fluorescente? Quer coisa mais triste?

 

Se tivesse ido ao restaurante para jantar, acho que choraria na calçada.

 

Adaptado de: FRAGA, Denise. Precisar, não precisa. Folha

de São Paulo, 24/7/2012. Disponível em

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/denisefraga/11245

96-precisar-nao-precisa.shtml. Acessado em 20/1/2013.

 

 

Considere as seguintes afirmações sobre emprego de vocábulos do texto.

 

I - O advérbio lá recupera a expressão no centro do Rio.

 

II - O artigo definido O, em O lugar, é empregado para veicular uma informação ainda não compartilhada com o leitor.

 

III - A forma verbal Lembrei-me está empregada na voz reflexiva.

 

IV - O pronome se, em se rendido, classifica- se como uma partícula apassivadora do sujeito.

 

Quais estão corretas?



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